Oscar 2016 — hashtag #OscarSoWhite???

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“Você não pode ganhar um Emmy por papeis que não existem.

Eu começo o meu artigo usando uma citação de uma outra premiação, o Emmy. Uso por causa do ponto de discussão dessa edição do Oscar sobre a falta de indicações de profissionais negros que gerou enorme repercussão, inclusive de artistas, culminando na ‘hashtag’ #OscarSoWhite.

Eu particularmente não acredito no racismo por parte da Academia, e sim pela falta de oportunidade do próprio mercado mesmo. Isso é tão verdade, que se fizermos uma retrospectiva dos filmes de 2015, veremos poucos destaques de atores, diretores ou outro tipo de profissional negro.

O que falta é oportunidade.

E nisso eu concordo com a atriz Viola Davis, vencedora do prêmio de melhor atriz em série de drama no Emmy de 2015. No seu discurso ela agradeceu aos vários roteiristas que escreveram papeis de personagens negros, mudando o significado sobre o que é belo, o que é sensual, protagonista, e dando oportunidade para os atores negros atuarem. Isso sim, faz toda a diferença.

A meritocracia é o que define a qualidade dos indicados. Claro, que há injustiças nessa lista, sim, como em todos os anos. Mas daí a dizer que há racismo, é uma grande diferença.

Para colaborar nesse pensamento, sugiro que assistam o vídeo do diretor de cinema independente, o brasileiro Tiago Belotti. Ele tem um canal no Youtube chamado Meus 2 centavos, onde ele faz excelentes críticas sobre cinema, além de outros tipos de vídeos. Tiago faz uma análise técnica sobre os indicados e desmistifica o suposto racismo dessa edição.

Por outro lado, a galera do site Omelete, acredita que o Oscar é branco, e acha que as ações divulgadas de reformulação dos votantes no Oscar são mais do que bem-vindas, e que equilibrarão a balança das diversas etnias e faixas de idade.

Com isso, as indicações passariam ser mais plurais, e nas próximas edições já poderíamos ver o resultado dessa mudança. É aguardar para ver como será no ano que vem.

Nem só de polêmica foi o que marcou essa edição. Outro ponto bastante característico, sem dúvida nenhuma, é o grande número de filmes baseado em fatos ou cinebiografias.

Esse tipo de filme sempre tem um forte apelo na hora da votação dos melhores pela Academia e certamente, a briga vai ser boa.

Explicando sobre as minhas avaliações

Esse é o terceiro ano que eu faço a resenha sobre os indicados ao Oscar, e mantendo o mesmo critério dos últimos anos, continuo adotando as seguintes categorias de avaliação:

Decepção, bom filme, gostei muitofilmaço.

No entanto, quando a lista de indicados saiu no site Omelete, eles acabaram publicando em seguida um artigo com os atores e filmes esnobados pela Academia.

Por conta disso eu resolvi levá-los em consideração, e que, junto de todos os filmes que concorriam à alguma categoria, eu fiquei com uma lista total de 25 filmes para assistir. 🙂

(Assisti de 21 de janeiro a 03 de fevereiro, sendo que alguns filmes eu já havia assistido antes em 2015)

Dessa forma, esse ano teremos duas resenhas separadas. Uma que vou chamar de Rejeitados e outra de Indicados, ambas com as categorias de avaliação que já citei. Assim, poderemos ver se os filmes que não entraram na lista dos indicados foram realmente esnobados, ou foi só #mimimi mesmo!

Outro ponto importante é que toda vez que o filme for baseado em fatos, ou uma cinebiografia, usarei a legenda [BF] na frente do nome, ok!? Algumas resenhas são iguais as que publiquei no perfil na rede social Letterboxd por entender que não há nada acrescentar, já outras, eu escrevi uma opinião inédita por aqui, certo!?

E por fim, antes quero fazer um pequeno disclaimer. Eu sei que o termo correto é design de produção, mas eu simplesmente eu não consigo me acostumar e vou chamá-lo de direção de arte, ok!?

Bom, regras explicadas, então vamos para as resenhas!

Lista de filmes rejeitados

Bom filme

[BF] — Straight Outta Compton (Straight Outta Compton)

O destaque desse filme é a personificação que alguns atores tiveram com os seus personagens. Principalmente pelo ator O’Shea Jackson Jr. que interpreta o ‘rapper’ Ice Cube.

O filme é uma cinebiografia que tenta retratar o confuso e tumultuado universo que é o contexto da criação do N.W.A., um dos grupos mais importantes do cenário ‘rapper’ da década de 90.

[BF] Black Mass (Aliança do crime)

Com um irreconhecível Johnny Depp no papel do criminoso James ‘Whitey’ Bulger, Black Mass é um filme que mete medo, mas não é tão profundo quanto um filme de máfia normalmente tem com os seus personagens.

O destaque fica mesmo fica por conta da direção de arte ambientada nas décadas de 70 e 80 e na maquiagem do Johnny Depp, que apesar das lentes de contato visivelmente ‘fakes’, o transformam num cara muito assustador, que parecia que ia explodir num surto de raiva a cada cena.

Ex Machina (Ex-Machina: Instinto Artificial)

Um dos filmes mais minimalistas e sofisticados dessa edição, Ex Machina concorre aos prêmios de melhor efeitos visuais e roteiro original, mas poderia figurar entre os melhores filmes do ano por sua história baseada no questionamento da inteligência artificial e seus limites.

Com diálogos extremamente inteligentes entre o trio de personagens Nathan (Oscar Isaac), Caleb (Domhnall Gleeson) e Ava (Alicia Vikander). Vale cada reflexão.

[BF] — Concussion (Um homem entre gigantes)

Esse foi um dos últimos filmes da lista que eu assisti, e confesso que não esperava nada dele. Apesar de eu gostar muito do Will Smith, reconheço que ele não é um ator que consegue fazer papeis com grande carga de dramaticidade.

Claro que The Pursuit of Happyness (À Procura da Felicidade) e Ali (Ali) são excelentes atuações dele e são sempre bem lembradas, mas eu nunca espero muito vindo dele no quesito atuação. Eu simplesmente só tenho muita empatia por ele.

O filme fala de uma situação típica da guerra entre Davi e Golias, onde o gigante é a NFL, a liga de futebol americana, e o Dr. Bennet Omalu é o Golias. O que vemos é uma história de vida importante, significativa, mas um filme apenas bom e um momento ou outro o espectador se emociona com as conquistas de seus personagens.

The Hateful Eight (Os 8 odiados)

Pra mim, o filme mais rejeitado pela Academia nessa edição!

Não teve Ezequiel 25:17. Os “8” não é o melhor filme de Tarantino. Pulp Fiction, Reservoirs Dogs, Kill Bill e Bastardos Inglórios estão na frente! Mas ainda sim, é um filme “Tarantinesco”. Teve violência (e como!!!), diálogos incríveis e reviravoltas.

A filmografia é espetacular. O “inferno branco” filmado com uma “Ultra Panavision 70” (em desuso há mais de 50 anos!), fazem o espectador acompanhar TUDO que acontece na cabana, em cada canto.

O filme conta com uma trilha sonora original de Ennio Morricone, um gênio do gênero Faroeste, e que estranhamente casou bem com o filme. A trilha dá o tom de clausura, inquietação em muitos momentos e foi uma nova experiência num filme de Tarantino, sem dúvida.

Sobre as interpretações, todos foram bem. Samuel L. Jackson, Kurt Russell e Jennifer Jason Leigh arrasam, mas eu esperava um pouco mais de textos para Tim Roth.

Sem dúvida, os “8” é Tarantino evoluindo o seu jeito de fazer filmes e vê-se nitidamente isso em tela. Merecia ser indicado nas 2 últimas vagas de melhor filme do Oscar.

Gostei muito

Beasts of no nation (Beasts of no nation)

Levei muito tempo para querer assistir esse filme. A ideia de transformar crianças em guerrilheiros num país destruído por uma guerra civil, sempre foi algo que me assustou muito. E ver isso retratado num filme é sempre uma experiência de choque absurdo.

Beasts of no nation é um produção da Netflix, o que explica bastante o fato de não fazer parte dos indicados ao Oscar desse ano. Idris Elba e Abraham Attah mereciam uma indicação. Não há como deixar de sentir medo, repulsa e indignação com o Commandant, personagem do Idris, ao mesmo tempo que não conseguimos nos afastar do desejo de que a vida do pequeno Agu volte ao que era antes, mesmo sabendo desde o começo do filme de que é impossível.

Sicario (Sicario — Terra de ninguém)

Sicario é um filme muito indigesto. Ele mostra a dura realidade dos agentes do FBI nas operações contra o cartel de drogas na fronteira dos Estados Unidos e o México, e nós somos arrastados para esse cenário.

A violência é tão aterrorizante que causa mal-estar durante todo filme. Essa sensação dá o tom da trama e o clima de tensão é uma constante. Há tensão na edição, nos diálogos e até na trilha!

O maior destaque dessa tensão é a cena do engarrafamento, onde vários agentes e possíveis suspeitos estão presos em carros parados. A cena dura poucos minutos, mas parece que foram horas, tamanha é a tensão criada.

Já o pior problema do filme é o seu final. A motivação de toda trama é banal e concluída de forma frustrante, mas ainda sim, dá para sair do cinema questionando todo esse tipo de operação e tirar uma lição disso.

Suffragette (As Sufragistas)

Apesar de não ser baseado em fatos, o filme retrata uma época importante da história e serve ao seu propósito: contar sobre a luta das mulheres conquistarem seu direito de votar. Ou, sufragismo.

O filme não vai fundo nas questões históricas da luta e foca na narrativa da Maud Watts (Carey Mulligan) e deixa escapar a oportunidade fazer um filme grandioso com um tema tão importante.

Destaque para a interpretação da Carey Mulligan, que tem um arco de desenvolvimento excelente e a belíssima fotografia, ambos mereciam estar entre os indicados.

[BF] — Woman in Gold (A dama dourada)

A indústria cinematográfica nos oferece inúmeros filmes falando das atrocidades do Holocausto, mas nunca sob a ótica desse filme. Sempre acabamos esquecendo como os Nazitas se apoderaram de milhares de obras nos espólios de guerra, entre eles o quadro “A dama dourada” de Gustav Klimt.

O filme me parecia despretensioso no começo e foi ganhando forma e dramaticidade. Certamente o fato do ator Ryan Reynolds estar no filme, fez com que eu me distanciasse a princípio e no fim eu achei justamente essa escolha é que foi o maior mérito do filme.

O personagem Randy Schoenberg é um advogado novato e falido financeiramente. Ele vai enfrentar o país da Áustria na Suprema Corte da Justiça dos Estados Unidos. Ou seja, é novamente Davi contra Golias! E justamente um ator tão rotulado por papeis não muito bons é que o torna o ator ideal para esse filme, e ele corresponde à altura.

A ambientação de época é sublime e ajuda a ilustrar a narrativa, além da ótima trilha de Martin Phipps e Hans Zimmer, que se torna envolvente e motiva conforme a trama aumenta.

Filmaço

Star Wars VII — The force Awakens (Star Wars — O despertar da força)

Fenômeno da cultura pop, Star Wars dispensa apresentações. O tão esperado filme dirigido por J.J. Abrams é um verdadeiro presente aos velhos fãs da trilogia, ao mesmo tempo que é uma excelente introdução dos fãs da nova geração, da mesma forma como se deu o Star Wars original em 1977.

O filme concorre nas categorias técnicas, o que era de se esperar. Mas ficou de fora dos indicados a melhor filme. Afinal, todas as semanas após o lançamento mundial, o filme quebra novas recordes. Uma pena. Fica para o próximo!

Lista de filmes indicados

Decepção

[BF] — Joy (Joy)

Ok, eu tenho uma grande implicância com a queridinha da América, Jennifer Lawrence. Apesar de eu reconhecer que ela é uma ótima atriz, e é uma celebridade de enorme carisma, simpatia e espontaneidade, ainda sim, não curto o seu trabalho.

Ela tem a enorme capacidade de escolher filmes que possuem narrativas de personagens transtornados, onde os seus contextos são surtados e o filme Joy é assim. Assim como em Silver Linings Playbook (O Lado Bom da Vida) e American Hustle (Trapaça), ambos premiados no Oscar, Joy opta desperdiçar 45 minutos do filme construindo o contexto da sua louca família, para só então criar o arco de desenvolvimento da personagem central. É MUITO tempo de tela jogado no lixo para manter o estilo de filmes surtados de Jennifer Lawrence!

Joy Mangano é uma empreendedora espetacular e merecia um filme inventivo, estimulante que provocasse no espectador um grande orgulho alheio, mas foi frustrado com mais um filme da dupla Jennifer Lawrence e Bradley Cooper, para variar!

Brooklyn (Brooklyn)

Esse foi o último filme que eu assisti da lista. Ao ler a sinopse antes de assisti-lo, eu tinha a certeza de que não ia gostar. A trama é rasa e o roteiro acompanha uma história água com açúcar e que nos leva a lugar nenhum.

O destaque fica por conta da indicação da atriz Saoirse Ronan e sua ensossa personagem Eilis. Injustificável!

45 Years (45 Anos)

Juro que eu quis gostar desse filme! Juro mesmo! A cada cena eu ficava imaginando algo realmente desagradável e determinante na relação do casal e o que se vê é apenas um desconforto.

Faltou coragem para criar uma tensão real sobre um argumento tão inquietante quanto esse. Uma pena!

Bom filme

[BF] — Bridge of Spies (Ponte dos Espiões)

Spielberg continua sendo um grande diretor e um dos meus favoritos, mas já tem algum tempo que ele não faz um filme memorável, mas ainda sim, Bridge of Spies (Ponte dos espiões) é um filme muito bom. Achei que só carecia um pouco mais de tensão, uma vez que o filme é baseado numa das épocas mais tensas da história recente.

Destaque para a linda direção de arte que ambienta com precisão a época em que a trama acontece, principalmente na parte fora dos Estados Unidos.

[BF] — The Danish Girl (A Garota Dinamarquesa)

Com uma inacreditável atuação do ator Eddie Redmayne no papel de Einar Wegener / Lili Elbe, o filme mostra de forma absurdamente sensível todo dilema da primeira pessoa a fazer uma operação para mudança de sexo. A coragem desse ator que literalmente fica nu em cena como homem e você vê uma mulher no espelho é incrível e única no cinema.

Acima de tudo, o filme trata-se de um amor incondicional de uma esposa que dedicou parte da sua vida em acompanhar o renascimento de um homem num corpo de uma mulher.

Destaque para a direção de arte, que é lindíssima, bem como o figurino, ambos concorrem em suas respectivas categorias.

[BF] — The Big Short (A Grande Aposta)

O tema central da história é bastante complicado, pois tem inúmeras siglas e procedimentos, além do contexto econômico do cenário americano, que nós brasileiros não estamos acostumados!

A tarefa é tão árdua de entreter e explicar para o público o que está acontecendo, que o diretor Adam McKay “rompeu a 4ª parede” e usou até mesmo a cantora/atriz Selena Gomes para explicar conceitos chaves da trama no melhor estilo “entendeu, ou quer que eu desenhe?”

O drama pessoal de cada personagem com suas decisões diante de um colapso da economia mundial, amenizam a lama por baixo desse mercado e entregam uma aula de economia em formato de filme.

A injustiça aqui é a indicação de Christian Bale como melhor ator coadjuvante e não o Steve Carell. Imperdovável.

Gostei muito

The Martian (Perdido em Marte)

Se uma palavra define bem The Martian (Perdido em marte) é divertidíssimo! Uma história onde as situações extremas do planeta Marte faz com que Mark Watney (Matt Damon) não consiga sobreviver no próximo problema e o que vemos é um roteiro rico de criatividade, bom-humor e tensão.

O filme concorre em várias categorias técnicas, mas ver Matt Damon como indicado a melhor ator é uma piada sem tamanho, mas que ainda sim, cumpre bem o seu papel.

[BF] — Trumbo (Trumbo)

Comecei assistir o filme sem saber praticamente nada da história e fiquei impressionado com a trama. Os fantasmas da “Guerra Fria” assombraram Dalton Trumbo (Bryan Cranston) e outros 9 companheiros que se auto intitulavam comunistas.

O resultado é um julgamento pelo Congresso com direito a delação premiada e o nosso personagem principal vai parar na cadeia! O que vemos à seguir é um profissional gabaritadíssimo se virar como pode para trazer sustento para a sua família com brilhantismo e muito jogo de cintura.

Destaque para Bryan Cranston que concorre como melhor ator, porém, não deve levar, mas o filme merecia estar entre os indicados de melhor filme, e não só com figurino e direção de arte.

Mad Max: Fury Road (Mad Max: Estrada da Fúria)

A seguir eu vou mexer no “vespeiro” dessa edição! Mad Max é um ótimo filme, mas sinceramente, não acho essa obra de arte toda que estão pintando por aí! Da mesma forma como Star Wars VII, o filme possui uma legião de fãs fervorosos que sempre elevaram a cultura do filme. Cultura essa que eu nunca curti tanto assim. Ok, eu me diverti quando moleque, mas era só isso.

Mad Max: Fury Road é frenético, é ação do começo ao fim e elevou SIM o patamar de filmes de aventura/ação. Mas daí a concluir que é o melhor filme do ano é um passo muito grande. Ele merece a indicação, mas é só isso! Apesar de gostar muito das críticas do pessoal do Omelete, eu não concordo com as opiniões retratadas no vídeo “Queremos explodir os velhotes do Oscar”.

Acho que assumirmos que Mad Max é o melhor filme do ano, poderemos aceitar que o filme “Quem quer ser um milionário” é melhor que “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Frost/Nixon”, “Milk” ou “O Leitor”! TODOS torceram o nariz quando isso aconteceu em 2009!

Eu acho que vencedores de Oscar possuem uma linha, um estilo. Eventualmente isso muda com algo mais alternativo, como Birdman no ano passado, mas achar que termos Mad Max como vencedor de Oscar, eu acho pouco provável!

Enfim, o filme é excelente, merece todas as indicações e é provável que leve várias categorias, mas não acredito que leve como melhor filme. Ele entretêm e só. Não é memorável!

Creed (Creed)

Antes de mais nada, Creed não é um filme sobre Rocky Balboa. O que não quer dizer que não somos brindados com cenas propositalmente referenciadas ao primeiro filme de Stallone de 1976, além de ter praticamente o mesmo argumento. Um campeão que dá uma oportunidade para um boxeador desconhecido na crença de que a luta já está ganha mesmo antes dela acontecer.

A virtude de Creed é saber trazer o público para uma franquia nova usando o ‘fan service’ como narrativa. O filme é nostalgia pura, sem ser referencial demais.

Os diálogos do Rocky e do Creed são simples, bonitos e muito profundos, como era de se esperar, e a indicação do Stallone ao Oscar de melhor ator coadjuvante é mais do que merecida, pois ele consegue fazer o mesmo papel com motivações de vida ainda mais importantes.

A direção é bem detalhista, e usa lentes macro em muitos momentos (e em algumas vezes até demais) e o diretor Ryan Coogler cadencia o arco do filme segurando a emoção para o 3º ato controlando a dramaticidade e até a música tema, que fica contida da mesma forma que o Creed como lutador. Destaque para a INCRÍVEL cena em plano-sequência da segunda luta que acompanha o Creed dos vestiários, passando pelo primeiro e segundo ‘round’. É simplesmente magistral!

Creed é um ótimo filme e só perde para o Rocky original e o Rocky Balboa, mas como eu disse no começo que não era um filme do Rocky, mas já nasceu campeão.

[BF] — Steve Jobs (Steve Jobs)

Ao ler algumas resenhas antes de assistir o filme eu fiquei incomodado com o fato dele ser baseado nos lançamentos do Apple II, iMac e NEXT. Ok, eu sei que é cruel fazer um filme de pouco mais de 2h sobre a vida e importância de Steve Jobs. Deixar de fora o lançamento do iPhone ou a própria criação da Apple? Nossa que heresia!

Foi nesse contexto que eu comecei assistir um Michael Fassbender frenético na tela com diálogos enormes (dignos de Tarantino) socando o meu estômago com a gigantesca teia de problemas que ele mesmo construía por causa da sua personalidade, arrogância e porque não, genialidade.

O filme é pautado pela sua conflitante relação com a Chrisann Brennan e a filha deles, Lisa Brennan. Um amigo meu comentou comigo que o filme deveria se chamar “Lisa” por isso. Esse fato efetivamente pautou a sua vida, e essa relação nunca foi tão bem explorada antes como nesse filme.

Definitivamente, eu não assisti um filme biográfico sobre o gênio da indústria de informática do último século, mas um filme sobre um péssimo pai, um chefe cruel, e ainda sim, uma pessoal genial.

Carol (Carol)

Sensível, sublime e profundo. Carol é um daqueles filmes com um argumento surpreendente que te fisgam sem você se dar conta.

A primeira hora do filme eu ficava incomodado pelo fato de como as personagens Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara) começaram o relacionamento amoroso.

Mas aí fui pego por uma reviravolta incrível e interpretações majestosas das duas atrizes. Nunca vi uma cena de amor entre duas mulheres tão bem-feita com a desse filme. O contexto de cada personagem justifica toda angústia e dificuldade desse relacionamento, afinal, a trama se passa em 1952.

O filme também se destaca pela lindíssima direção de arte, fotografia, figurino e trilha sonora. Todas indicadas em suas respectivas categorias.

[BF] — Spotlight (Spotlight: Segredos Revelados)

Spotlight me lembrou muito o filme “Todos os homens do Presidente” por seu ritmo em busca da verdade. O filme é um soco no estômago a cada nova evidência encontrada.

Chegar no final da história é uma enorme mistura de sensações. Por um lado, há um sentimento de conquista pelo incrível trabalho da equipe de jornalistas, e editores, e por outro, há um terrível incômodo de saber sobre a podridão que motivou a história. Prefiro então ficar com a frase do editor Marty Baron (Liev Schreiber):

“Às vezes é fácil esquecer que nós passamos a maior parte do nosso tempo tropeçando no escuro. De repente, uma luz se acende e uma justa culpa vai embora. […] Este tipo de história , é a razão pela qual trabalhamos.

Filmaço

[BF] — The Revenant (O Regresso)

Angústia.

Essa palavra define bem o sentimento que nos acompanha durante todo o filme. Você sente dor, ódio, repulsa, indignação e dúvida. Você não sabe como Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) “regressará”, mas faz força com ele a cada cena.

Aliás, DiCaprio deve finalmente levar o Oscar de melhor ator esse ano. Sua interpretação é visceral, é física. Ele fala pouquíssimo no filme, isso tem um contexto, um sentido, aliás, dois! O primeiro é a sua própria personalidade contida, comedida. A outra é por ter sido atacado por um urso (na verdade uma mamãe ursa, que defendia as suas crias!), e dentre inúmeros golpes, um no pescoço, que prejudicou a sua condição de falar.

A cena do ataque com o urso é angustiante e absurdamente bem feita. Só isso, já vale o filme. Mas também destaco a fotografia e a maquiagem! O filme é o recordista de indicações e deve faturar vários prêmios e acredito que será o grande vencedor da noite, inclusive de melhor filme.

Room (O Quarto de Jack)

Já adianto que é o meu filme favorito da lista. Muito se deve ao fato do próprio argumento em si, que é uma mulher sequestrada que é mantida em cativeiro por 7 anos, além de seu filho, Jack, de 5 anos.

O filme é magistral e sensível. Cada cena é muito bem executada para mostrar a dualidade entre a delicadeza da relação dessa mãe com o seu filho e a violência emocional que eles sofrem em cárcere. A narrativa do filme culmina com a fuga deles, que os levam para um novo drama. A adaptação ao mundo lá fora.

A direção de Lenny Abrahamson é maravilhosa, e o roteiro é inacreditável, e merecem as suas indicações. Eu só não consigo entender porque Jacob Tremblay (Jack) não foi indicado como melhor ator. O filme é dele! A narrativa da história é toda contada por seu personagem, e o jovem ator faz isso com uma sensibilidade aguda!

Não há palavras para descrever o que eu senti assistindo “O quarto de Jack” (Room). Nunca vi nada parecido. Estou torcendo para que ele leve a estatueta de melhor filme.

Minhas apostas para os vencedores do Oscar 2016

(Os filmes sinalizados na cor vermelha são os meus favoritos)

  • Melhor filme: The Revenant (O Regresso) — Room (O quarto de Jack)
  • Melhor diretor: Alejandro Gonzáles Iñárritu — The Revenant (O Regresso) — Lenny Abrahamson — Room (O Quarto de Jack)
  • Melhor ator: Leonardo DiCaprio — The Revenant (O Regresso) — Leonardo DiCaprio — The Revenant (O Regresso)
  • Melhor ator coadjuvante: Sylvester Stallone — Creed (Creed) — Sylvester Stallone — Creed (Creed)
  • Melhor Atriz: Cate Blanchett — Carol (Carol) — Brie Larson — Room (O quarto de Jack)
  • Melhor atriz coadjuvante: Rooney Mara — Carol (Carol) — Jennifer Jason Leigh — The Hateful Eight (Os 8 odiados)