Game of Thrones – O amor é a morte do dever

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Antes de mais nada, aquele aviso básico sobre ‘spoilers‘ tá?

Claro, sei da enorme dificuldade que é adaptar uma história de um livro para as telas, principalmente uma série de TV. Há centenas de desafios pelo fato de ser uma obra ficcional de fantasia, com zilhões de personagens e com a trama baseada em diálogos memoráveis. Não bastasse todos esses ingredientes, soma o fato de quando George R. R. Martin vendeu os direitos da história para a HBO, haviam 4 livros de sucesso e mais um que seria lançado após a série estrear na TV.

Tudo isso fez a história atingir um público gigantesco de escala global! Essa fato travou o autor, que certamente não tinha um final definido para a sua trama. Afinal, ele é um escritor que produz suas obras sem pressa, e o público dos seus livros já sabem disso. O fato é, que mesmo que George Martin soubesse o que queria para o final da história, ainda havia um longo caminho a seguir amadurecendo a ideia.

O resultado foi que a cada temporada que a série avançava, mais a pressão sobre o fim da história aumentava sobre os ombros de George Martin. Tanto é que recentemente ele deu uma declaração  dizendo que a série o obrigava a escrever um final grandioso. Isso pode ser um sinal claro para as inúmeras decisões dos ‘showrunners‘ David Benioff e D.B. Weiss tomaram após a 6ª temporada, que há pouca ou nenhuma referência dos livros. O que vimos em tela foram 5 temporadas impecáveis, uma 6ª mediana e 7ª e 8ª bastante polêmicas, de opiniões bem mistas.

Eu mesmo tenho ressalvas com as duas últimas, mas no geral, gosto do fim que a história tomou, apesar de reconhecer que elas parecem ser de autores completamente distintos, o que na verdade são. Com George Martin até a 5ª temporada, com ambos na 6ª e de autoria de D&D no fim.

Então, para ilustrar bem essa minha opinião, e argumentar cada ponto, eu resolvi separar por temas que não gostei, temas que eu gostei, e uma conclusão final. Quem quiser discordar ou concordar, é só usar os números e comentar ok!?

E antes de começar a minha resenha, eu quero dizer que eu assisti a série pela terceira vez poucas semanas antes de iniciar a última temporada. Antes eu fiz uma maratona para assistir a sétima temporada.

Foi muito bacana perceber certos detalhes que passaram batido por mim, especialmente porque eu nunca li os livros (mentira, li a metade do primeiro anos atrás!). Cenas, diálogos e deixas construída pelo caminho, me chamaram bastante atenção nesse momento final.

Outra coisa que eu fiz bastante nessas últimas semanas foi assistir vídeos de alguns canais que focaram no tema como Carol Moreira e Mikannn, Holandês Voador, Gustavo Cruz, além de ouvir os podcasts Braincast e Nerdcast.

Então vamos lá:

E aí @cristianoweb, o que você não gostou?

#1 – O arco final do Bron

Desnecessária, sem sentido, com um final completamente incoerente. Como pode o Tyrion eleger o Bron o Mestre da Moeda depois de ser ameaçado de morte e levar um soco na cara? Se fosse bem construído, faria até sentido pelo lado irônico dos personagens e a sua relação, mas foi totalmente desleixado.

#2 – Euron lutando contra Jamie

O Euron é um personagem sem consistência nenhuma. Quando é conveniente narrativamente ele é foda, quando não, é um otário. Fora que a luta deles não foi determinante para a morte do Jamie a seguir. Ele deveria ter morrido no seu navio, queimado pelo Drogon, afogado em meio aos inúmeros destroços de toda frota de navios.

#3 – A fata de coerência nas atitudes do Verme Cinzento

Primeiro, ele deveria ter matado Jon Snow imediatamente após ele ter matado sua rainha. Ele estava com sangue nos olhos matando Lannisters desarmados a mando da Daenerys, mesmo com intervenção de Jon Snow.

Também não matou Tyrion depois que a Daenerys morreu, e no conselho, ele aceitou o exílio do Jon Snow para a Muralha e depois levou os Imaculados para a Ilha de Naar.

Ok, ele estava cumprindo o que havia prometido para a sua amada, mas, para quem impôs a punição para o Jon Snow ir para o exílio, não ficar em Porto Real para se certificar foi bastante esquisito.

#4 – O rosto da Daenerys não aparecer enquanto ela queimava Porto Real

Em NENHUMA cena vemos o rosto dela enquanto o Drogon dá o ‘Dracarys‘.

#5 – O ‘Cleganebowl

Não somou nada, não acrescentou nada e só existiu para cumprir um ‘fanservice‘.

#6 – A indecisão da Arya durante o cerco final

A confusão da Arya só serviu para nós expectadores acompanharmos de perto os horrores da população de Porto Real enquanto Daenerys queimava a cidade. Entendo que ela sacou que o ódio que ela carregou durante anos depois que o seu pai foi decapitado a levaria para um final trágico, mas deu uma sensação de desperdício após ter matado o Rei da Noite de forma tão épica.

#7 – A multiplicação do exército Dothrakis e Imaculados

Na batalha de Winterfell os Dothrakis praticamente foram mortos, e Imaculados, que nunca foram um exército gigantesco (8 mil no total inicial), era pra ter bem menos no discurso da vitória da Daenerys.

#8 – A ida dos Imaculados para a Ilha de Naath

Completamente sem sentido, uma vez que para se certificar que o Jon Snow ficaria no exílio, eles deveriam ficar em Porto Real.

#9 – A não morte imediata do Tyrion após recusa como Mão do Rei e do Jon Snow por matar a Daenerys

Sei que as suas mortes comprometeriam o final. Mas uma vez que os roteiristas escolheram por esse caminho, tinham que aguentar as consequências dessas escolhas. Completamente incoerente.

#10 – O conselho julgando os atos do Jon Snow e do Tyrion

Toda a cena é bem intencionada, faz sentido não ter uma liderança, uma vez que os principais lordes do Westeros morreram. Mas a cena do Edmure Tully foi patética, a apatia dos lordes de Dorne e Vale de Arryn fazendo figuração foi bem estranha.

#11 – A escolha do Bran como Rei

Apesar de eu aceitar o argumento na hora com a melhor escolha, depois vê-se que na prática quem é o Rei é o Tyrion. O que deixa ainda mais a escolha dos roteiristas dele não ser morto após abdicar do seu post de Mão do Rei, completamente inconsistente.

#12 – A sub-utilização do arco do Rei da Noite vs Bran

De longe o que eu menos gostei. 8 temporadas esperando o inverno chegar e sendo desperdiçado por uma nota de rodapé de verbete, foi bem frustrante. Principalmente sabendo que foi confirmado o ‘spin-off‘ da série Bloodmoon. Lamentável!

E o que você gostou?

#13 – Sam dando o nome do livro

Definitivamente, Sam é o próprio autor George R. R. Martin na história.

#14 – O ato final da Melissander

Apesar das inúmeras burradas que cometeu, ela voltou, e mesmo sem nenhuma fé em si própria, cumpriu o seu destino e enfim, descansou. Ficou para trás, um mítica história sobre o seu colar e a sua verdadeira idade.

#15 – A última palavra de Missandei

Não poderia ser outra. ‘Dracarys‘!!!

#16 – A redenção do Teon

Finalmente Theon pôde se redimir de tanta atrocidade que fez antes do Ramsay cruzar o seu destino. O único detalhe sem sensibilidade foi a escolha de arco-e-flecha como instrumento de defesa para o Bran. Por mais que o Theon fosse um excelente arqueiro, era para ter espadachim ali com ele.

#17 – As mortes honradas dos Mormont’s

Lyanna Mormont é uma personagem magnífica! Sua morte aguerrida foi memorável e honrada, bem como a do Sor Jorah, que mesmo muito ferido, suportou de pé até o final para defender o seu amor Daenerys.

#18 – A independência da Sansa

Sansa, assim como Arya e Jamie foram os personagens que mais evoluíram e mudaram! Ela enfim se tornou uma ‘Lady de Winterfel‘ e mesmo correndo o risco de levar um ‘Dracarys‘ da Daenerys a cada resposta atravessada, ela se manteve firme para defender a sua família até o fim, e merecidamente conseguiu a independência do Norte.

#19 – O final de Cersei e Jamie

Não poderia haver outro final para eles dois. Mesmo que Jamie tenha a abandonado e até rolado um rala-e-rola com a Brienne (Achei um pouco forçado. Ok, achei muito mesmo!), ele encerra o arco de forma lindíssima e coerente com a sua personalidade. Cersei por sua vez, sempre oscilou momentos de tirania e fragilidade no seu relacionamento com o seu irmão, e no momento final, vemos a sua fragilidade pela última vez. Perfeito!

#20 – A busca do Tyrion pelos irmãos

Irretocável! Vi muita gente reclamando sobre o fato dos dois estarem inteiros depois do desmoronamento, e o Tyrion conseguir achá-los após mover apenas duas ou três pedras. O nome disso é narrativa. Foi necessário para o encerramento dos arcos dos irmãos.

#21 – A despedida de Tyrion e Jamie

Sensível e inteligente, pois aumenta o conflito entre a Daenerys e o Tyrion, e permite o encerramento do arco do Jamie com a Cersei.

#22 – A ordenação da Brienne como cavaleira

Sensibilidade com toque de humor (Tormund). Impecável!

#23 – A atitude da Brienne atualizando o livro com os feitos do Jamie

Fechamento perfeito para o arco entre Brienne e Jamie!

#24 – Drogon queimando o trono

Absurdamente significativo. Só não é perfeito pois ele não mata Jon Snow. Mesmo com a justificativa dele ser um Targaryen, é muito estranho não haver uma reação de animal que tem inteligência para identificar a metáfora de que o guerra dos tronos matou a sua mãe, ele não é inteligente o suficiente em entender quem de fato a matou. Ainda sim, uma cena lindíssima!

#25 – Arya matando o Rei da Noite

Gritei de pé quando ela fez a manobra de trocar o punhal de mãos. Técnica que ela usou num treinamento com a Brienne em Winterfel na 7ª temporada. Como eu tinha revisto a temporada há pouco, a cena ainda estava fresquinha na minha mente. Muito emocionante!!!

#26 – A coragem do arco final da Daenerys

Apesar de ser filha do Rei Louco, Daenerys não enlouqueceu e sim pôs em prática o ‘modus operandi‘ que ela sempre fez desde que viu Khal Drogo queimar vivo o seu irmão Viserys. Ela optou por impor autoridade! Ela impôs medo quando crucificou centenas de mestres em Meereen e matou outros tantos em Astapor, quando prendeu sua escrava num cofre para sufocar, quando queimou vivos a bruxa Mirri Maz Duur, Randyll Tarly, etc…

A melhor definição sobre o arco dela que fez foi o Cris Dias no Twitter:

Ao rever a série, deu pra perceber isso claramente.

Claro que sei que muitas pessoas não curtiram esse desfecho justamente pelos motivos que o Cris Dias lançou no seu tweet. Eu curti!

#27 – O fim do ciclo de Jon Snow

E por fim, o arco do Jon Snow. Muita gente reclamando de que ele oscilou momentos de bravura e apatia nessa série. Da mesma forma que a Daenerys, esse comportamento sempre acompanhou o personagem em vários momentos. Tanto que ele foi capturado pelos selvagens depois de vacilar ao matar a Ygritte, ao ser traído por irmãos da patrulha e tantos outros momentos.

Claro que a relação dela com a Daenerys não foi bem construída na série. Tudo foi muito repentino e forçado. Mas vê-lo como regicida, da mesma forma com o Jamie, é simplesmente fantástico, pois reafirma a justificativa que o Jamie sempre deu ao ser chamado tantas vezes na série de ‘kingslayer‘. Assim como Jamie, Jon Snow fez o que devia ser feito. E isso traz de volta o conselho que o Meistre Aemon deu pra ele na quinta temporada: kill the boy!

Na ocasião ele disse a frase “o amor é a morte do dever” e Jon Snow cumpriu mais uma vez o seu dever. Mesmo pagando um preço alto por isso, que foi ele próprio matando o seu amor. O seu exílio é praticamente auto-imposto. Ou seja, fim perfeito para o personagem!

Com qual sentimento você se despede de #GoT?

Como no Tweet acima que eu enviei pra Ju Wallauer, eu estou em paz com Game of Thrones. Mesmo com os vários atropelos no final, acho que jornada foi incrível. Deixo então um último ‘embed‘ com o que é um acho que é o resumo de assistir #GoT nesses anos todos!

“My watch is ended”.