Fazemos design para pessoas, não para designers

Para começar os trabalhos de postagem em 2011 aqui no blog, nada melhor do que falar sobre a criação do logotipo dos Jogos Olímpicos de 2016 do Rio de Janeiro. Lançado oficialmente no Réveillon, o logotipo foi criado pela agência carioca, Tátil design, e óbvio que já gerou discussão sobre o seu conceito, similaridades e há quem já achou que é fruto de plágio mesmo.

Plágio ou inspiração?

Antes de entrar na análise sobre o plágio ou inspiração, quero deixar claro alguns pontos importantes que eu considero para a criação desse logotipo.

  1. Estamos falando de um evento internacional. Portanto, há uma enormidade de culturas, conceitos que se confundem e ao mesmo tempo são contraditórios, o que impedem uma identidade que atenda ao planeta. Nos países, as cores e símbolos possuem interpretações diversas e analisarmos isso de maneira radical é a pior maneira de chegarmos a um consenso.
  2. Raciocinando não como carioca, mas como um indiano, neozelandês ou um turco; é compreensível que esses povos esperem uma identidade que remeta à nossa cidade, portanto usar o Corcovado ou o Pão de Açúcar não é “Lugar Comum”, é pensar como um estrangeiro, ou será que Paris ignoraria a Torre Eifel ou os Arcos do Triunfo na hora de criar o conceito de uma marca? Quem apostaria numa marca do Rio de Janeiro com a Ilha de Paquetá como símbolo? Nada contra esse ponto turístico, muito pelo contrário, eu já lá fui muitas vezes na minha infância e tenho boas recordações desse lugar, mas o fato é que os gringos mal conhecem outra praia que não sejam Copacabana ou Ipanema.
  3. Outro ponto importante é a percepção que os povos possuem para cada cor. Vermelho num país significa “alerta”, já noutro pode significar “intelectualidade”! 0.O!!! Por isso eu acho que o melhor caminho é evitar os riscos e partir para algo que remeta às cores do País da cidade-sede. Parece meio óbvio, mas afinal, estamos lidando com a população do planeta!

O motivo de tanto barulho

Minha opinião é que o “barulho” se deve ao #fail do logotipo do Chico Xavier da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Muito se falou sobre essa marca e como foi o seu processo de aprovação, quais profissionais estavam envolvidos e o momento que estávamos na época do lançamento (pós desclassificação da Seleção Brasileira da Copa da África do Sul). Enfim, acho que colocaram tudo isso num caldeirão e foi a fórmula perfeita para muita polêmica e insatisfação e hoje o caldo transbordou no logotipo dos Jogos Olímpicos 2016 do Rio!

Argumentos sobre o logotipo da Copa do Mundo como “um evento de futebol, esporte jogado com os pés e temos três mãos na marca”, “a estética das mãos são pobres”, “o ano está em vermelho e é pequeno demais” (o que atrapalha, e muito a legibilidade da mesma!), fora o fato que a aprovação foi feita por celebridades e não profissionais do ramo (Que gerou um hilário vídeo aumentando a polêmica). Até mesmo a ADG (Associação dos Designers Gráficos do Brasil) ficou de fora do processo e chegou a publicar uma nota lamentando o fato.

Nunca é demais lembrar que esse mesmo evento já havia polemizado algum tempo antes quando ainda não haviam cidades-sedes definidas e outras logos oficiais foram lançadas para as candidaturas. Cidades como São paulo e Curitiba formaram o antepasto do prato principal que viria mais a frente. Não podemos esquecer do caso da empresa de fornecimento de água carioca, a CEDAE que colocou os próprios funcionários para criarem sua nova marca com objetivo de aproximar o consumidor da empresa ao colocar em suas mãos o destino da sua marca ignorando completamente os profissionais da licitação! E foi nesse cenário é que foi apresentada a marca oficial dos Jogos Olímpicos no Rio!

Como foi o processo de criação?

A marca traduz, com inspiração, o espírito olímpico e os atletas, o Rio e os cariocas, sua natureza, sentimentos e aspirações. Juntos, diferentes países, atletas e povos se abraçam.

Essas foram as palavras que defenderam o logotipo no lançamento apresentado pela Daniela Mercury para cerca de 2 milhões de pessoas na praia de Copacabana na virada do ano! E agência que trabalhou nesse conceito foi a Tátil Design, que foi a vencedora entre 139 agências num processo que durou 5 meses segundo o COB. A agência conta no seu vídeo oficial que foram escolhidos 12 pontos que a marca deveria ter e sintetizada num único produto!

“Fácil reconhecimento”, “Entendimento Universal”, “Inovadora”, “Original”, “Falar do Rio de uma forma nova”, “Projetar a imagem do Rio para o Futuro”, “Tinha que durar seis anos, com vigor” e “Como é que agente consegue sintetizar tanta coisa numa marca pro Mundo?”

Num brainstorm interno, “no total foram criadas 150 propostas de logotipos para a marca! E o resultado foi que a escolhida foi a mais transformada de forma coletiva pela equipe!” Isso prova que a os Espírito Olímpico esteve presente inclusive na criação. E isso fica muito claro no vídeo explicativo que a Tátil fez. Assista o vídeo abaixo.

Sobre a hipótese do plágio

Assim que o logotipo foi apresentado ao público, explodiram comentários de análise sobre a criação, e rapidamente surgiram pessoas com as referências do suposto plágio. Muitos disseram que a marca é plagiada da obra “A Dança” de Henri Matisse. Exposta em São Petersburgo – Rússia, no Museu Hermitage. É uma pintura de óleo sobre tela e mede 2,6m por 3,89m. Ainda houve quem a comparasse com o logotipo da Telluride Foundation (entidade beneficente no Colorado – Estados Unidos) e a marca do Carnaval de Salvador de 2004. Essa última sim, um plágio claro!

Na minha opinião, não houve plágio na criação da agência carioca, e sim um forte conceito comum entre as imagens. E isso é mais do que natural. No máximo, inspiração! A ideia de união, celebração, diversidade, movimento, harmonia, são conceitos inerentes aos Jogos Olímpicos e ouso a dizer que ninguém e nenhuma agência conseguiria fugir disso na criação sem ser bem-sucedido sem algum transtorno!
Além disso, o que a Tátil ganharia com o plágio? O argumento de criar a logo mais vista do mundo e usar um quadro famoso e copiá-lo é no mínimo inocente! A agência seria BURRA se agisse dessa forma. Ao assistir o vídeo da criação, por mais “marketeiro” que ele possa ser, tudo que foi falado tem coerência, ou os críticos da web acham realmente que toda aquela equipe concordaria com a ideia do plágio?

A criação de qualquer marca precisa se ater aos conceitos de design, tipologia, direção de arte, e tantas outras técnicas. Mas precisamos lembrar sempre que uma marca é feita para o entendimento de pessoas comuns. Elas em geral não possuem esse critério na hora de avaliar se gostam ou não de um logotipo. É claro que trabalhamos no cognitivo de cada uma das pessoas extraindo suas referências, culturas e oferecemos a melhor solução. A ideia de plágio foi descartada, inclusive para as empresas derrotadas no processo seletivo.

Acredito que o trabalho da agência Tátil Design atingiu esse objetivo com perfeição. Acho que ela não arriscou muito, mas fez bem o seu dever de casa e vai representar bem o design brasileiro/carioca. Afinal, o mundo é feito de pessoas, não de designers!