Há tempos que eu quero escrever esse texto e colocar para fora tudo o que eu sinto hoje em relação ao que eu fui nos últimos anos.
Sim, fui, no passado.
Óbvio que eu não mudei 100%, mas eu gosto de repetir a frase que o Marcelo Freixo disse na entrevista dele para o Marcelo Tas para a série #Provocações do canal Provoca:
"Eu sou um homem em desconstrução."
É assim que eu me vejo hoje.
Alguém que viu inúmeros valores da sociedade serem conquistados e ressignificados e entende que não há mais como voltar atrás.
Não que isso não seja possível.
Sempre é possível haver retrocesso na sociedade.
A questão central é que os valores de antes não servem mais, e isso sempre causa muito debate na nossa sociedade.
Mas o fato é que:
Não dá mais para aceitar racismo, homofobia e machismo na sociedade.
Ainda que a gente saiba que isso sempre existirá e sempre enfrentaremos resistência sobre esses temas.
Mas ainda sim, é assim que a sociedade anda para frente.
É nas pequenas coisas que vamos lutando e conquistando vitórias:
nas conversas com um motorista de Uber machista, com alguém racista na fila do supermercado, com um homofóbico no escritório da firma.
Claro que com quem conseguem ouvir. Que aceitam, ainda que com muita resistência, mas permitem o diálogo.
Não há como tolerar o intolerante. Esse é o princípio de tudo.
O contraditório faz parte da evolução sociedade, a intolerância não!
Posto isso, deixe então eu fazer uma retrospectiva de quem eu fui.
Ao longo da minha vida eu fui machista, racista e homofóbico.
É simples!
Basta apenas você reconhecer que todas as mazelas e agressões vividas pelas mulheres, negros e LGBTQI+, nós chegamos rapidamente a conclusão de que todos nós perpetuamos um comportamento machista, racista e homofóbico. Ainda que de forma não proposital.
Eu não fugi à essa regra velada e hipócrita da sociedade.
Aliás, isso continua acontecendo na minha vida.
Eu preciso me esforçar constantemente para que eu não faça ou fale algo machista, racista ou homofóbico.
O preconceito está tão entranhado na nossa cultura que nem nos damos conta.
É rotineiro e acabamos banalizando e perpetuando ainda mais.
Mas quando é que isso tudo mudou?
Não sei.
Mas o que eu sei, é que foi uma longa e dolorosa jornada.
Claro que nada comparado à violência que essas pessoas sofrem no cotidiano.
Mas ainda sim, é muito difícil reconhecer que você é machista, racista e homofóbico.
Afinal, de todas essas chamadas “minorias sociais”, eu tenho o privilégio de não fazer parte de nenhuma delas.
E sim, a palavra é PRIVILÉGIO! Gostando ou não, essa é a palavra.
Se você é Homem, branco e hétero. Você é um privilegiado!
É como um salvo-conduto.
É liberdade de ir e vir, de poder participar de mais oportunidades e ainda sim ser reconhecido pelos seus méritos, ainda que sua capacidade seja inferior.
Mas a minha visão nem sempre foi assim. Como eu disse antes, eu sofri para entender.
Ouvi de amigos próximos o que é ser mulher, o que é ser negro e gay!
Foi preciso entender que essa fala não é minha, e sim deles.
Não sou eu que sofre no cotidiano.
São eles!
Amigos e amigas como Heloisa, Roney, Patrícia, Marisa, Rafael, Priscila, Úrsula, Renato, Alessandra, Marcos e tantos outros que é impossível listar aqui sem fazer injustiça!
Foi convivendo com a diferença de amigos esclarecidos é que a minha mente mudou.
E agora eu não consigo mais voltar atrás!
É como a citação do Albert Einstein:
"Uma mente que se abre para o conhecimento jamais voltará ao seu tamanho original".
Retrospectiva
Nesses dois últimos anos de pandemia, onde a nossa vida foi posta à prova, todos os preconceitos e injustiças sociais cresceram ainda mais.
Logo no começo da pandemia os dados de violência já saltavam e transformavam a situação da pandemia ainda pior para essas pessoas.
E hoje, isso fica muito claro que é uma questão de preconceito e ódio.
Ódio pelas mulheres, negros e gays!
E isso para mim é inexplicável!!!
Mas seguimos lutado.
Lutando pelo amor, para construção de um mundo melhor para TODAS as pessoas.
A reflexão que eu faço é trazer exatamente a frase que me mudou.
Não por acaso eu conheci na mesma entrevista que citei acima.
Ela foi dita pela escritora Antonia Pellegrino, esposa do Marcelo Freixo:
"No novo normal, só tem lugar para dois tipos de homem, em desconstrução ou em decomposição."
E eu quero ser um homem em desconstrução.
Feliz Ano Novo Desconstruído para todos nós!