Prometi pra mim mesmo que não falaria mais sobre o assunto desde que o 1º turno terminou, mas eu pensei melhor, e com a ajuda e o empenho de amigos queridos, aqui estou para mais um textão sobre o dilema de escolher entre Bolsonaro e Haddad no próximo dia 27 de outubro.
Na verdade não é uma escolha para saber quem é o melhor. Não, muito pelo contrário. É a escolha de Sofia. Sairemos perdendo de qualquer jeito. A decisão aqui é quanto estamos dispostos a perder.
É disso que se trata!
Desde quando a democracia pelo voto direto retornou eu votei no Lula. Cresci ouvindo o relato de terror da Ditadura Militar e vi no PT uma alternativa para toda aquele cenário. Lula para mim, antes de qualquer coisa, significava esperança. Com ele era possível sonhar num país onde as oportunidades chegassem para os pobres.
Votei nele de 1989 a 2006.
Foi só em 2010, quando ele inventou a Dilma é que eu cai em mim de que o que o Lula queria era se perpetuar no poder. Ele aprendeu a fazer política do jeito mais cínico que há: vendendo qualquer coisa e qualquer um para não mudar o “modus operandi” de sua atuação.
Mesmo assim, e não consegui enxergar o que viria a seguir e votei na Dilma para presidente e então a operação Lava-Jato começou a chamar atenção e indiciar os primeiros políticos. A chapa esquentou! E quando isso acontece, os ratos que ficam começam a dar com a língua nos dentes e pintaram os primeiros presos e claro, sobrou pra “não-política” Dilma. Levou um golpe em plena luz do dia e foi impedida de continuar a presidir.
O que vimos à partir daí foi só vexame e decepção!
Bilhões de desvios, esquemas e falcatruas! Dos mais de 30 partidos até então, 14 tiveram nomes de seus políticos envolvidos e condenados, além de inúmeros empresários e servidores públicos. Olhar para esses números e achar que há alguém ou algum partido impune é não só inocência, mas como também uma enorme cegueira.
O sistema político é corrupto.
Mas a sociedade também é!
O jeitinho brasileiro faz o político representá-lo. E quando não fazemos nada a respeito elegendo-os novamente sem o mínimo de cuidado, essa corrupção se perpetua, cresce, e entranha na sociedade.
Ignorar o que está acontecendo é ser corrupto.
No mínimo conivente.
Sentar em cima da nossa responsabilidade de escolher quem guiará o rumo do nosso país e deixar a banda passar é tão errado quanto desviar dinheiro de merenda das escolas públicas.
Nós somos tão sem consciência dessa responsabilidade que seguimos fazendo bandalha nas ruas, estacionamos em local proibido, chegamos atrasados e pedimos para sermos aliviados, molhamos a mão do guarda de trânsito, e tantas outras coisas e não nos damos conta que é EXATAMENTE assim que os políticos fazem.
O tempo vai passando, nós vamos não nos envolvendo, e nisso, ELES criaram um país e agora chegamos numa encruzilhada criada pela nossa falta de envolvimento. O resultado desse nós contra eles criado pelo Lula nesses anos todos, fez com que nossa preguiça de pensar não víssemos o que estava acontecendo e hoje, não há mais nenhuma chance de desviarmos da bola descendo a rua.
É preciso escolher!
Eu mesmo precisei ficar fora da Internet por um tempo para refletir. Após o resultado do primeiro turno eu fiquei completamente perdido, desolado. A minha primeira reação foi negar. Não queria escolher nenhum dos dois. Não queria estar nessa situação. Mas passado o momento de negação, resolvi refletir novamente no assunto.
É fato que o meu dilema é bem claro.
Eu NUNCA votarei no Bolsonaro, por entender que ele representa o ódio, a intolerância, o machismo, e a possibilidade do empoderamento de faixas da sociedade que compactuam com esse pensamento se acharem no direito de agir conforme seus preconceitos.
Meu dilema seria em conseguir me convencer de que votar no Haddad seria algo menos pior do que esse cenário que prevemos com Bolsonaro, mas acima de tudo, eu precisava conseguir a resposta para as minhas seguintes perguntas:
Lula estará indiretamente no poder?
Haddad será Presidente minimamente melhor do foi Prefeito de São Paulo?
O PT terá forças para articular e voltar ao poder executivo do pais depois de perder espaço na última eleição?
Não, eu não tenho respostas para essas perguntas.
O que sei, é que votar no Haddad não me trará alegria.
Eu sei é que se ele vencer, o Brasil será o mesmo de hoje.
Com uma política corrupta, suja, mas previsível.
Sei que teremos quatro anos para fiscalizarmos e cobrarmos que o Haddad governe o Brasil. Com ele, ainda teremos um estado democrático de direito, ainda que o PT tente crescer no cenário político o máximo que puder. Eles perseguirão a operação Lava-Jato e tentarão de toda forma desqualificá-la.
Mais ainda sim, isso é democracia.
Com Bolsonaro essa possibilidade não existe!
Então no segundo turno eu votarei no Haddad.
Sem festa, sem sorriso e sem barulho.
Apenas digitarei o 13 mais uma vez, e que seja essa a nossa última vez.
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Obrigado Raphael Crespo, Patrícia Moura, Roney Belhassof, Manu Rangel, Natália Puppin, Mario Filho e tantos outros amigos.