Entendendo “a cabeça de Steve Jobs”

Capa do livro A cabeça de Steve Jobs
Capa do livro A cabeça de Steve Jobs
Capa do livro A cabeça de Steve Jobs

“Design é função, não forma.”

Essa frase citada no livro “A cabeça de Steve Jobs” de Leander Kahney, é sem dúvida nenhuma a síntese de como pensa uma das mentes mais brilhantes do mercado da indústria tecnológica que já existiu. Os conceitos da cabeça desse homem mudou o comportamento de toda uma geração. Ao contrário do que pensam vários fanboys por aí, eu tenho consciência de que ele não fez tudo isso sozinho. Bill Gates tem uma enorme parcela na revolução mundial causada pelos computadores pessoais e junto com Jobs, seja concorrendo ou em parceria como hoje, o Mundo não é mais o mesmo depois do que foi feito nos últimos 40 anos.

Antes de fazer a minha resenha sobre o livro quero mostrar como e quando conheci Steve Jobs e sua Apple.

Em 2001, um pouco antes do atentado ao World Trade Center, eu fui trabalhar como operador de telemarketing num curso web numa empresa que já não existe mais justamente para subsidiar o meu curso. Eu era muito novato e pouco sabia sobre Internet e computadores. Fiz rapidamente amizade com os instrutores da casa, que pelo fato de eu ser funcionário estavam sempre me mostrando as tendências e variações do mercado web da época. E foi lá que eu vi o iMac pela primeira vez. Fiquei encantado com aquela obra de arte! Ele tinha uma cor que eu não conseguia destinguir. O mouse era estranho de manipular e o menu era em cima, no topo da tela. Confesso que nunca esqueci a sensação de usá-lo naquele dia. Foi lá também que um dos instrutores, vendo a minha admiração pelo iMac me emprestou uma fita VHS (isso mesmo! Eu não tinha DVD player) do filme “Pirates of Silicon Valley” que contava a história da criação da Apple por Steve Jobs e Steve Wozniak e o surgimento da Micro-soft (era com hífem na época) de Bill Gates, e como o Mundo foi raptado pelos microcomputadores e suas engenhocas.

O filme começa com o lendário comercial da Apple de lançamento do Macintosh em 1984 dirigido pelo Ridley Scott fazendo alusão ao livro “Nineteen Eighty four (1984)” de George Orwell que mostrava a realidade de uma sociedade oprimida por um partido autoritário que manipulava os meios de comunicação.  A Apple mudou totalmente a maneira como as pessoas vêem o mundo, e principalmente como interagem e se comunicam. E nisso Jobs foi o pioneiro. Bill Gates foi o grande empreendedor e com uma visão comercial aguçadíssima e se não houvessem os dois, talvez um Mundo fosse diferente hoje, mas quem vai saber não é mesmo?

Afinal: louco ou gênio? Detalhista ou meritocrático?

No livro, ao contrário do filme, começa justamente quando Jobs retorna à Apple em 1996 e inicia a reformulação da empresa quando ela estava enfrentando uma grande crise sem precedentes. Seu trabalho foi árduo, longo e penoso. O que mais me chamou a atenção no livro foi o foco que Jobs teve nessa época. A Apple possuía uma grade de produtos enorme e de difícil assimilação pelo consumidor. E foi então que Jobs começou um trabalho de infinitas entrevistas com as equipes de todos os produtos da empresa em busca do refinamento. E uma das mais célebres atitudes quando concluiu o trabalho foi traçar de forma absolutamente simples a nova linha de produtos da Apple. Leia um trecho do livro:

[…] “Jobs  desenhou uma tabela muito simples de dois por dois no quadro branco. No topo escreveu ‘Consumidor’ e ‘Profissional’, e na lateral ‘Portátil’ e ‘Desktop’. Aí estava a nova estratégia de produtos. Apenas quatro máquinas: dois notebooks e dois desktops, direcionados a usuários profissionais ou consumidores”. […]

Com essa atitude, Jobs que ainda era considerado um CEO interino, remou contra uma maré de direcionamentos que quase levaram a Apple à falência por causa da sua ausência de 11 anos. Se não fosse o seu foco em criar soluções simples voltados para o usuário talvez a empresa não estaria mais no mercado hoje em dia. Seu empenho aliado à um temperamento explosivo geraram grandes citações mas também criaram toda uma atmosfera em torno da sua personalidade onde termos como “louco” e “gênio” convivem na mesma pessoa.

Na minha humilde opinião, Jobs é um intelectual à frente do seu tempo e não tem a menor paciência com pessoas em que seu nível de inteligência seja abaixo do seu. Mas uma contradição incrível da história é que ele faz justamente aparelhos absolutamente fáceis para pessoas desse nível ou menos. Jobs não é formado. Ele não entende de engenharia de computadores, não é designer, tampouco é publicitário, isso o faz ser o consumidor técnico mais exigente do planeta. Ele acaba fazendo o papel de porta-voz das pessoas com menos conhecimento tecnológico possível, para que qualquer coisa que ele crie seja facilmente utilizada por uma pessoa comum. E quem sofre com isso são os engenheiros, designers e publicitários da Apple que sofrem com sua explosões de raiva quando algo não dá certo!

A busca do menos.

O livro possui passagens memoráveis de Jobs (citadas por ele e outros pensadores) em busca da simplicidade nos produtos que produziu, mas sem deixar a qualidade de fora. Frases como “tente experimentar um produto durante 20 minutos, se desistir de usá-lo nesse período algo está errado”, “simplicidade é complexidade resolvida”, ou “um grande carpinteiro não vai usar madeira ordinária para a parte de trás de um armário, ainda que ninguém a veja”, fazem da Apple ser a empresa que mais cria na sociedade o desejo de possuir os seus produtos.

As maiores referências de Jobs são Henry Ford, Thomas Edison e Edwin Land e freqüentemente ele faz comparação da tecnologia com a arte onde acredita que tudo é uma questão de boa observação do que desejam as pessoas. Uma boa frase que remete à esse pensamento é “criatividade é apenas conectar coisas”. Outra grande frase que ficou famosa foi “os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam” de Pablo Picasso e foi citada por Jobs na época da visita paga à empresa XEROX que deu de bandeja a invenção da interface gráfica e o mouse o que hoje em dia achamos absolutamente normal, mas na época foi completamente descartada como lixo pela empresa. Com essa tecnologia o acesso à informação ficou mais do que simplificado, ficou intuitivo e prazeroso, e disso Jobs entendia muito bem.

O legado de Steve Jobs

Mas meus filhos nasceram onde tudo que Jobs criou é comum. Faz parte de nosso cotidiano o hábito de ir fotografar ou filmar um evento e depois editá-lo no seu próprio computador, ou comprar uma música na Apple Store e não o CD inteiro porque você apenas gostou de uma das faixas do álbum, ou usar um celular com tecnologia Touch Screen onde você pode baixar vários aplicativos para beneficiar o seu dia à dia. Isso sem falar dos inúmeros filmes como Monstros S.A., Procurando Nemo e que são sucessos de bilheteria e possuem espaço garantido na estante no quarto das crianças.  Tudo isso são frutos da “cabeça” de quem percebeu o quanto a tecnologia pode ser aliada não só para a automação de certas atividades, mas como também para o prazer da comunicação e da integração entre as pessoas. O livro para mim serve para mostrar o quanto erramos quando dizemos que o presente é inovador e inventivo, com novas tecnologias sendo criadas à cada minuto. Para mim a inovação está no passado, mais precisamente em 1976 na garagem da casa de Steve Jobs onde o presente, ou melhor, o nosso futuro foi escrito.

Espero que tenham gostado pessoal!

Até a próxima pessoal!

😀