Oscar 2023 – Tudo vai levar tudo, ou quase tudo!

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(Resenha com alguns ‘spoilers’. Leia por sua conta e risco!)

A edição do Oscar desse ano tem vários desafios: 

Apagar a imagem do tapa que o Will Smith deu no Chris Rock, e ainda aumentar a audiência do show! Acho tudo muito pouco provável, pois nem o Chris Rock parece ter aprendido nada com a sua fala tóxica e nem a audiência televisiva dá sinais de que vá reverter essa queda, tanto que a cerimônia será transmitida por algumas plataformas de streaming. Aqui em casa eu assistirei pela HBO Max.

Já sobre os filmes, temos uma edição eclética, onde apenas um filme parece ser o favorito nessa reta final de campanha do Oscar. 

Sim, eu usei o termo campanha, porque isso faz toda a diferença!

Quanto mais eu acompanho críticos de cinema que fazem a cobertura do Oscar e outras premiações importantes, fica claro que as campanhas de lembrança são estratégia que visam mobilizar os jurados a votarem nos seus candidatos. 

O fato é que desde quando eu comecei a acompanhar a corrida para o Oscar por volta de outubro de 2022 (veja minha lista completa clicando no botão abaixo), Os Fabelmans lideravam, depois Os Banshees de Inisherin cresceu bastante e nessa reta final Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.

Tudo leva a crer que Tudo levarão tudo, ou quase tudo mesmo!

Selo "Não sou capaz de opinar"

Como sempre acontece em todas as edições, há alguns filmes que eu não consigo assistir, ou eu não tenho interesse, o que me impede de opinar.

São eles:

Filmes ou indicações esnobadas

Indicações

Design de produção

Nessa categoria, Nada de novo no front e Elvis correm por fora. O primeiro por nos colar dentro do campo de batalha da Primeira Guerra e o segundo no epicentro do show business fantástico de Elvis, mas Babilônia é sobre a indústria do cinema dos anos 1920/1930 e Hollywood sempre celebra Hollywood!

Edição

Três filmes possuem edição frenética com controle absurdo de ‘timing‘. Elvis, Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo e Top Gun: Maverick. No entanto a edição e a montagem de “Tudo” é a espinha dorsal do filme. Não tem como não vencer!

Fotografia

Esse prêmio dificilmente não será para o Nada de novo no front. A fotografia nos coloca dentro do campo de batalha, fazendo sentir na nossa própria pele o ambiente hostil e desumanizado que a guerra é.

Efeitos visuais

Barbada. Sem a menor chance de Avatar: o caminho da água não levar esse prêmio! O cuidado, a inovação e o esmero de ANOS de dedicação.

Maquiagem e cabelo

Categoria bastante concorrida. Em Batman há uma maquiagem feita no Colin Farrel que o deixa irreconhecível como o Pinguim antes de se transformar no Pinguim cartunesco que nós conhecemos. 

Já em A baleia, a maquiagem feita no Brendan Fraser não o deixa irreconhecível, mas nos convence de que ele tem mesmo aquele peso.

Mas Elvis há um trabalho de maquiagem tanto no Tom Hanks quanto no Austin Butler, que vai mudando conforme o tempo passa no filme, além dos penteados.

Canção original

Applause e This is a Life não acho que tenham chance real.

Eu não consigo gostar de Naatu Naatu da mesma forma como eu não consigo gostar do filme. Simplesmente não me pegou. Tecnicamente é muito bom, mas eu realmente não gosto do estilo. E como a música tá nesse contexto, eu também não curto a música.

Lady Gaga já venceu antes, então acho que a Rihanna vence dessa vez, principalmente por causa do contexto da morte  recente do Chadwick Boseman (T’Challa).

Som

Não tem para ninguém! Esse prêmio será de Top Gun: Maverick. Efeito sonoro, trilha, diálogos, tudo junto, audível e compreensível! Barbada! Mas Nada de novo no front corre por fora e pode surpreender!

Animação

Outra barbada! Pinóquio de Guillermo Del Toro foi uma grata surpresa, principalmente depois do fiasco que foi o remake recente em formato live action da Disney. O Gato de Botas 2: O último pedido é fofíssimo, mas Del Toro deve levar a estatueta pra casa!

Trilha sonora

Nada de novo no front tem uma trilha sonora que chega ser quase de um filme de terror. Ela complementa a angústia, a falta de esperança se esvaindo aos poucos, mas acho que Babilônia leva pelos mesmos motivos da categoria Design de produção.

Roteiro original

Aqui acho que será um dos únicos, senão o único prêmio do Os Banshees de Inisherin. E se vencer, será merecido! Um roteiro inteligente, com uma premissa intrigante, vale sim um Oscar!

Roteiro adaptado

Não consigo entender a indicação de Glass Onion: Um mistério Knives Out. Pretencioso, raso e chatíssimo!

Deve dar e eu torço para Entre mulheres. Um texto sensível, profundo e emocionante.

Filme internacional

Aqui a categoria onde a minha torcida perderá e será mais doída.

Argentina, 1985 tem um apelo muito forte para nós brasileiros. Afinal, esse era o destino que nós gostaríamos para o nosso país pós Ditadura Militar. Uma pena, nos dois sentidos! Nem julgamos e condenamos os nossos ditadores e nem Argentina, 1985 vencerá! Deve dar mesmo Nada de novo no front, e também será justo!

Ator coadjuvante

Não consigo entender a indicação de Judd Hirsch em Os Fabelmans. Acho a atuação dele ótima, mas é rapidamente esquecida no decorrer do filme.

Tanto Brendan Gleeson quanto Berry Keoghan vão dividir votos e perderão abraçados. 

Já Brian Tyree Henry a indicação é o próprio prêmio em si, uma vez que o filme Passagem é bem fraquinho!

Não tem jeito, o prêmio será de Ke Huy Quan que entrega um personagem incrível, além de toda a sua jornada como ator para chegar nesse momento.

Atriz coadjuvante

Torço para a Kerry Condon que entrega uma personagem que conduz a nossa indignação sobre a maluquice dos dois ex-amigos, verbalizando aquilo que nós pensamos enquanto assistimos o filme. Ela é a voz da razão em tela!

Mas quem deverá ganhar é a Angela Bassett pelo conjunto da obra, novamente, pelo contexto da morte do Chadwick Boseman (T’Challa)

Ator

Mais uma categoria barbada. Brendan Fraser pela superação, entrega, pela interpretação e a sua jornada pessoal como ator. Eu acho que Austin Butler entregou uma interpretação melhor como Elvis, mas não vou ficar triste se o Bredan Fraser vencer.

Atriz

Não entendo a indicação da Ana de Armas. Já sobre a polêmica da campanha de indicação da Andrea Riseborough, o trabalho dele é excelente, porém o filme é fraquinho! Não acho que ele tem chance.

A briga está entre Michelle Williams que entrega uma Mitzi Fabelman que oscila entre os seus momentos de euforia, depressão e encantamento; Cate Blanchett e a sua Lydia Tár encantadora e desprezível e Michelle Yeoh com a sua entrega num tipo de filme completamente desafiador. Acho que ela leva.

Direção

O que os Daniel’s fizeram em Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é inacreditável! Dirigir um filme com uma montagem maluca que pula o tempo todo de linha do tempo deve ter sido um desafio gigante. 

Tanto na questão técnica que precisa fazer coerência com tantas locações, direções de arte e personagens diferentes, ao mesmo tempo que com os seus atores e atrizes. Por isso acho que eles devem levar o prêmio de melhor direção.

Indicados mas são decepcionantes!

Ao contrário de outras edições, esse ano eu não tenho nenhuma decepção nos indicados de melhor filme, somente em roteiro adaptado que eu não consigo entender a indicação de Glass Onion: Um mistério Knives Out.

Indicados que são ok

A baleia

A premissa do filme é intrigante e chama logo atenção. Perda, culpa, arrependimento, amor, preconceito, homofobia… são tantas camadas de sentimentos, que mesmo prendendo a atenção, fica difícil de saber sobre qual é o tema central da trama. 

Nós somos complexos, e o filme serpenteia por vários temas e sentimentos, provocando em nós expectadores, um gosto amargo que nos faz refletir sobre as nossas próprias escolhas.

No entanto, o roteiro não se aprofunda sobre os temas, com diálogos beirando ao brega, deixando vários momentos motivações e soluções forçadas, mas ainda sim, ele é capaz de manter o expectador engajado, porém o debate em cada um desses é desperdiçado.

A adaptação da peça de teatro é um ponto bem negativo. A dinâmica não ficou boa, parecendo até mesmo preguiçosa.

O destaque do elenco é sem dúvida o Brendan Fraser (Charlie), que tem muita chance de sair como vencedor no Oscar, e Hong Chau (Liz) como sua amiga enfermeira.

Triângulo da Tristeza

Sátira crua sobre a vulgaridade da riqueza embalado numa estrutura pouco convencional, que faz de Triângulo da Tristeza um filme pouco acessível ao grande público, mas que entrega personagens tão desprezíveis quanto impossíveis de ignorar.

Divido em três partes completamente distintas, o filme causa muito estranhamento e desconforto em seu formato. E é justamente essa a intenção do diretor Ruben Östlund: dar foco ao incômodo sobre as falsas relações baseadas em dinheiro, poder e popularidade.

Um filme difícil de se assistir como entretenimento, mas profundo em sua reflexão.

To Leslie

Drama pesado sobre alcoolismo e toda as suas consequências.

Com uma atuação vigorosa da atriz Andrea Riseborough (Leslie) que carrega o filme na costas.

A direção não é tão hábil ao suavizar o tema, mas ainda sim, dá para sentir o peso que o álcool faz na vida de uma pessoa.

Bons filmes indicados

Top Gun: Maverick

Divertido, nostálgico com uma roupa nova, mas é isso. Diversão. Filme pipoca. Indicação para melhor filme foi um enorme exagero.

Os Fabelmans

Os Fabelmans é uma grande homenagem ao Steven Spielberg. Como era de se esperar, é sensível, emocionante, mas não é o melhor filme que ele fez.

Indicados que eu gostei muito

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é o queridinho dessa edição do Oscar. Deve levar melhor filme e outras premiações. Eu gostei muito, mas ainda acho que a motivação de todo o caos do filme é para falar sobre amor. Confesso que eu esperava mais! 

Mas é merecedor de toda atenção que ele está tendo. O desafio de filmar algo tão fora da curva assim foi sem dúvida nenhuma GIGANTE! 

Nada de novo no front

Argumento interessante, uma vez que nunca assistimos filmes de guerra sobre a ótica dos alemães.

Ver o grupo de amigos, mas sobretudo o personagem Paul Bäumer (Felix Kammerer) morrer aos poucos por conta dos horrores da guerra é angustiante e muito impactante.

A sua jornada ao longo do filme é brutal e constantemente incômoda.

O fato de filmes de guerra já terem sido muito explorado pela indústria do cinema americano, Nada de novo no front dá ao expectador uma visão mais crua e sob o ponto de vista da derrota além do inferno que é estar no front.

Outro grande destaque fica para a boa fotografia, o incrível som e maquiagem.

Certamente ganhará prêmios nessas categorias e como melhor filme estrangeiro.

Aftersun

Aftersun é um dos filmes mais difíceis dos indicados, não por causa de um tema complexo, não, muito pelo contrário. É um filme sobre a relação de um pai e a sua filha de 11 anos.

Na superfície é sobre isso.

Mas submerso, ele é sobre a visão atual da filha, que agora é adulta, sobre aquelas férias com seu pai. 

Ele passava por problemas financeiros e estava lidando com a sua depressão. E isso faz a sua perspectiva mudar completamente sobre o filme. A estreante diretora Charlotte Wells nos fornece um filme sensível, delicado e ao mesmo tempo profundo.

Entre mulheres

A violência contra as mulheres mostrado de uma forma crua, verdadeira, cheia de camadas e absurdamente franca.

Entre mulheres se passa num vilarejo de uma comunidade de uma religião ortodoxa, onde estupros acontecem de forma recorrente, e por conta dos dogmas da fé, as mulheres violentadas precisam decidir o que fazer sobre o convívio com esses homens, sua segurança e de suas filhas.

A violência contrasta enormemente com a ideologia pacífica de vida dessas mulheres, que possuem o perdão não como escolha, e sim como obrigação. O resultado é uma conversa escondida por dois dias num celeiro para decidir o que fazer.

A princípio a escolha das mulheres do nosso tempo parece ser fácil, mas a cada cena, cada diálogo, cada argumento vemos cada uma das camadas de mais violências são trazidas a tona. 

Um dilema a cada minuto mais profundo.

O elenco de atrizes é estupendo e cada uma tem tempo de tela suficiente para aumentar ainda mais a carga do drama. Destaque para Rooney Mara, Claire Foy e Jessie Buckley, mas ainda vemos ótimas atuações.

Entre mulheres é um filme que fica conosco, pela importância e realidade do tema.

Filmaços!!!

Elvis

Um filme a altura do artista que foi Elvis. Grandioso e enigmático. 

Elvis é um filme que é a cara do seu diretor Baz Luhrmann. Intenso, frenético e cheio de camadas.

A intepretação Austin Butler como Elvis é assustadora, mas também sobra espaço para o magistral Tom Hanks como Coronel Tom Parker.

Destaque também para a montagem, edição, maquiagem e cabelo, e claro, som! Impecáveis!

Os Banshees de Inisherin

O plot de Os Banshees de Inisherin é intrigante, quase surreal e ao mesmo tempo simplório. Olhando na superfície, o roteiro beira a maluquice, mas depois de um distanciamento, várias camadas surgem na sua mente.

Quão complexo é envelhecer sem perspectiva? Há muitas coisas importantes do que só apenas viver! A trama surpreende e escala de forma bizarra que a certa altura do filme você se pergunta: 

O que diacho vai acontecer mais nessa relação?

Com interpretações impecáveis, que merecem muito as indicações! O final pra mim foi agridoce, mas pode ser também que eu esperava uma desgraça total, ou uma reconciliação maluca. Nenhuma coisa, nem outra, mas ainda sim, vale cada minuto!

Tár

Não dá pra falar sobre Tár sem mencionar Cate Blanchett.

A entrega de Blanchett para o seu personagem é assustadora. Numa das primeiras cenas ela praticamente faz um monólogo por 10 minutos num único fôlego, e tudo isso com nuances e vibrações apaixonadas e raivosas.

Impressionante!

Já o filme é um drama sobre uma personalidade altamente egóica de uma maestro talentosíssima e que não deixa espaço para mais ninguém estrelar. Nem na música, nem na sua vida particular.

Melhor filme

Dessa relação de 10 filmes, Avatar: O caminho da água, Os Fabelmans, Top Gun: Maverick e Triângulo da tristeza não possuem chance de vencer. 

Elvis, Tár e Entre mulheres correm por fora, mas a briga mesmo fica por conta de Nada de novo no front, Os banshees de Inisherin e Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo.

Como Nada de novo no front deverá levar em melhor filme Internacional, a batalha fica entre os dois últimos. E no critério de escolha onde todos votam em sua ordem de preferência, Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo tem mais chance do que o seu concorrente.

Ambos são ótimas escolhas e eu ficarei satisfeito se qualquer um dos dois vencer!

Resumo final

Essa edição sem dúvida é uma das mais ecléticas dos últimos tempos. Vários filmes que não são “a cara de Oscar”, e com alguma representatividade, mas ainda sim, abaixo do esperado e algumas polêmicas, como sempre.

Já o nível técnico não foi tão elevado. Não há nenhum filme papão-de-Oscar, e isso com certeza ainda é reflexo da retração da indústria por conta da pandemia, mas levemente melhor que a edição do ano passado.

A expectativa de retomada de crescimento ficará à partir do próximo ano mesmo. Alguns filmes que já estão em produção ou finalização prometem uma ótima competição.

É aguardar pra ver!