Equilíbrio

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Eu tenho usado muita essa palavra de uns tempos para cá.

Seja por conta dos meus cinquenta anos que se aproximam, seja por conta da pandemia, do momento político / econômico que gerou empoderamento de pessoas que fazem nos sentir mal, inseguros e sem esperança.

Ou tudo junto mesmo. Vai saber.

O fato é que eu venho tendo muitas conversas com a Cida sobre o tema.

Equilíbrio financeiro,

equilíbrio na saúde,

e equilíbrio mental!

Tenho buscado muito estar equilibrado.

Nunca fui muito preocupado como tudo o que nos cerca nos impacta, mas esses últimos 4, 5 anos me mostraram ainda mais um conceito que estava pairando por perto da minha consciência, que é o fato de não termos controle de nada.

Por mais que eu me informe, leia, questione, me cerque de pessoas conscientes, empáticas,

a vida sempre dará um jeito de ser selvagem! 

E como eu gosto de repetir:

“A vida é uma selva!” É Darwin na veia!

Mas ao mesmo tempo eu sempre carreguei comigo um sentimento incômodo por conta da minha história de vida.

Eu sempre achei a minha vida como um filme de roteiro ruim.

E eu nunca gostei dele.

Meu nascimento sempre foi uma questão pra mim e só de uns anos pra cá é que eu resolvi.

Na minha infância e adolescência esse incômodo sempre andou comigo, mas pela falta de maturidade como indivíduo, e eu consegui conviver com esse sentimento de uma forma até que boa.

O problema foi ser adulto.

Ter a consciência depois que você é marido, e principalmente pai, é foda!

Todas as verdades escondidas da sua inocência surgem.

E eu senti o baque.

Foram ANOS de amargura, ressentimentos e tudo misturado. Eu tinha muita vontade de ser amado, reconhecido e valorizado.

Mas eu precisei ficar ranzinza, amargo, rancoroso, e até detestar quem eu tinha me tornado para me curar!

O irônico foi só enxergar isso quando eu comecei a me deixar impactar pelo ativismo de combate em certas pautas que eu aderia com o tempo pela Internet.

Machismo, homofobia e racismo.

Me deixar pautar por esses temas me salvaram, pois ajudaram a me colocar no lugar das pessoas e durante esses últimos anos esses sentimentos todos se misturaram.

Raiva, descrença, amargura caminham junto de amor, empatia e resiliência.

Quando eu penso nisso tudo um filme sempre me recorre.

Capitão Fantástico.

(Alerta de spoiler!)

Só para contextualizar, o filme conta a história de Ben Cash (Viggo Mortensen), sua esposa Leslie (Trin Miller) e seus seis filhos, que vivem no deserto de Washington.

Eles são contra a vida capitalista americana e criam uma família autossuficiente convivendo na natureza. Sua esposa tem transtorno bipolar e tira a própria vida no início do filme e nós seguimos acompanhado a reintegração forçada deles na sociedade.

Eu compartilho alguns dos valores do Ben e sua família, mas estou longe de ser um anarquista como eles mesmos se autointitulam.

Política de esquerda, filosofia e pensamento crítico são algumas ideologias que eu me identifico, mas não da forma radical que eles vivem.

Mas guardadas as devidas proporções, é impossível não fazer um paralelo com a minha vida.

Ver pessoas se alienando com informações fantasiosas de toda sorte através de grupos na Internet e ganhando voz, militando teorias de conspiração fazendo crescer um comportamento anti-ciência e reacionário, fascista, violento, intolerante me estimulam cada vez mais a querer me isolar “dessa gente”.

E não estou falando só de pessoas que estão distantes e que só vemos pela Internet. 

Não.

Tem o vizinho, o colega de trabalho, os pais do amiguinho da escola, alguns amigos e claro, familiares.

Como conviver harmonicamente quando se pensa tão diferente?

Eu me sinto mal, afinal, não estamos falando de uma preferência por uma cor favorita ou comida. Estamos falando de pessoas que conhecemos e algumas que até amamos, que possuem visões de mundo onde acham aceitável ser intolerante com esses temas. 

E claro que eu sinto raiva, rancor e ranço disso!

Mas ao mesmo tempo eu volto a pensar no filme.

E lembro como o Bodevan salva o pai desse dilema fazendo ele cair na real, mostrando para ele que os filhos ainda precisavam do pai para enfrentar o luto da perda da mãe, mas também da vida!

A família encontra então um equilíbrio com os seus ideais de vida, sem deixar de se manter em sociedade. Fazem algumas concessões e tentam se adequar.

Quero chegar nesse equilíbrio onde essas pautas possam ser batalhadas, sem eu me tornar uma pessoa amargurada por causa das injustiças da vida. 

Afinal eu sei que a “a vida é uma selva” e eu não quero me tornar exatamente quem eu combato! 

Um intolerante que não sabe viver em sociedade.

Eu tenho que ser o meu próprio Bodevan. Esse é o meu desafio!

Assim como Ben disse no filme quando o sogro ricaço quis impedir a família de cremar o corpo da filha, fruto de seu último desejo:

Tem lutas que não dá para vencer.
Os poderosos controlam as vidas dos impotentes.
É assim que o mundo funciona.
É injusto.
Mas também é ruim pra cacete.
Temos que nos calar e aceitar.
Bem, querem saber? Que se dane!

Tenho que achar o equilíbrio entre esses dois mundos!