Oscar 2022 – Agora vai?!

Publicidade

(Resenha com alguns ‘spoilers’. Leia por sua conta e risco!)

Com a pior audiência dos seus 93 anos, com apenas 9,85 milhões (contra 23,6 no ano anterior)a última edição do Oscar teve uma queda de 58% da audiência.

Esse ano a Academia terá que se virar nos 30 para oferecer uma 94a edição que recupere o glamour e prestígio dos anos anteriores. Claro que a pandemia e o distanciamento atrapalharam muito a cerimônia, mas a última edição não fugiu às polêmicas e trapalhadas, aumentando ainda mais o desinteresse do grande público.

Para se ter uma ideia, Steven Soderbergh que dirigiu a cerimônia, decidiu que a entrega do último prêmio seria de melhor Ator, contando que o vencedor seria Chadwick Boseman, apostando numa grande homenagem póstuma, no entanto o vencedor foi Anthony Hopkins (pelo filme Meu pai) que não compareceu.

Resumo: nem homenagem ao nosso eterno Pantera Negra, nem consagração do filme Nomadland. Um fiasco!

Enfim, o desafio da Academia é enorme, mas vamos ver o que acontece! Filmes bons e ótimos é o que não falta!

Lembrando que esses e outros filmes estão na minha lista Oscarizáveis!

Estreia do selo "Não sou capaz de opinar"

Em todas as edições, sempre há alguns filmes que eu não consigo assistir e outros eu realmente não tenho interesse e esse ano eu criei um selo especial!

Não sou capaz de opinar!”

E a lista de filmes desse ano que levam o selo é:

Filmes esnobados

Design de produção

A tragédia de Macbeth é simplesmente lindíssimo! Cada “frame” é uma pintura, uma verdadeira obra-prima, mas eu acredito que será o vencedor da noite será Duna mesmo, que também é deslumbrante.

Edição

Essa é uma categoria que eu acho barbada. Não vejo ninguém melhor que Não olhe para cima.

Fotografia

Aqui a briga é feia! Todos os quatro filmes que eu assisti que concorrem nessa categoria são simplesmente impecáveis, mas acho que vai dar A tragédia Macbeth mesmo! O filme é uma mistura única de filme “noir“, teatro, efeitos visuais e práticos!

Efeitos visuais

Duna realiza uma obra há muito sonhada pelos fãs da obra de Frank Herbert. Com soluções visuais que ajudam muito com a narrativa do filme. É muito favorito!

Maquiagem e cabelo

Exagerado na medida certa, acho que Os olhos de Tammy Faye leva esse prêmio facilmente. Basta pesquisar o nome dos personagens no Google e conferir que o trabalho é impecável! No entanto Casa Gucci pode surpreender.

Canção original

Acho muito difícil a Beyoncé perder esse prêmio, mas eu torço para que a música do Sebastián Yatra de Encanto ganhe. Apesar de achar que a música desse filme deveria ser We Don’t Talk About Bruno, Top10 no Spotify!

Som

Mais um prêmio técnico para Duna, outra barbada!

Animação

Difícil não dar Disney esse ano! Com 3 candidatos, Encanto caiu no gosto popular e merece! A história é fofa, os personagens são carismáticos, mas A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas pode surpreender!

Trilha sonora

A trilha de Jonny Greewood de Ataque dos cães é incômoda, tensa e sensível, mas não memorável.

Figurino

Mais uma categoria que eu não consigo opinar. Meu chute é Duna!

Roteiro original

Essa categoria me surpreende muito por ter Belfast e Licorice Pizza como indicados, que não merecem! O primeiro é água com açúcar e o segundo é chatíssimo! Já Não olhe para cima é ácido, sagaz, provocador e direto nas várias camadas de críticas do roteiro! Pra mim é outra barbada dessa edição!!!

Roteiro adaptado

Personagens com muitas camadas, diálogos inteligentíssimos, o roteiro de Ataque dos cães é sublime! Fim!!!  

Filme internacional

Mais uma categoria selo Não sou capaz de opinar, o único filme que vi dessa lista é o que eu estou torcendo!😅

Ator coadjuvante

Com exceção de J.K. Simmons, que é um ator espetacular, em Apresentando Ricardos ele está apenas operante nesse filme. O restante é briga feia, mas acho que dá Kodi Smit-PcPhee por Ataque dos cães. Há quem diga que ele é o serial killer do filme e que foi ele quem matou o Phill Burbank (Benedict Cumberbatch).

Mas fica a minha torcida para Troy Kotsur interpretando o engraçadíssimo e sensível Frank Rossi em No ritmo do coração.

Atriz coadjuvante

Ariana DeBose está deslumbrante em Amor, sublime amor. É praticamente certa a sua vitória, mas a minha torcida vai para a Jessie Buckley em A filha perdida. As cenas que ela faz com as personagens das filhas é assustador! Não consigo me imaginar dizendo nenhuma das suas falas para os meus filhos.

Ator

Vira e mexe tem o Oscar da vez. Nessa edição vai acontecer com o Will Smith. Não é nem de longe o seu melhor trabalho, mas tudo indica que ele receberá o prêmio de melhor ator. Torço muito para Andrew Garfield de Tick, tick… Boom! mas acho muito difícil que aconteça. Uma pena!

Atriz

Aqui vale o protesto sobre a ausência da Renate Reinsve em A pior pessoa do mundo. Eu colocaria ela facilmente no lugar da Penélope Cruz de Mães paralelas.

Elogiar o trabalho da atriz Olivia Colman é chover no molhado, por isso a minha torcida, mas eu não me surpreenderia se a Nicole Kidman ganhasse. Mas acho que vai dar a Jessica Chastain. Ela está ótima!

Indicados mas são decepcionantes!

Indicados que são ok

Bons filmes indicados

Indicados que eu gostei muito

Filmaços!!!

Tick, tick... Boom!

A montagem é impecável! Sem o clássico “voice-over” típicos em cinebiografias, Jonathan Larson narra a sua história de cima do palco do próprio musical. A convenção de gênero típica de um musical é quebrada justamente por não ter todas as falas cantadas, mas ainda sim o filme tem ótimas canções, porém sem danças, mas tem algumas coreografias.

Andrew Garfield entrega um Jonathan Larson visceral, apaixonado, inquieto, criativo e sobretudo frágil. Ele mostra um personagem com todas as suas falhas, apesar de sua genialidade cativante. Mereceu MUITO essa indicação!

O restante do elenco é operante, com mais destaque para o carismático personagem do Michael (Robin de Jesus).

Eu assisti sem ter nenhuma ideia do que se tratava o filme, a não ser que era dirigido por Lin-Manuel Miranda (Hamilton e In the Heights). Só depois de assistir o filme é que eu soube que a carreira desse diretor foi influenciada pelo musical do Larson. 

Uma belíssima homenagem em todos os detalhes da produção e direção.

Duna

Ponto alto do filme, sem dúvida é justamente a parte técnica. Fotografia espetacular! Como eu disse antes, cada frame é uma obra-prima, muitos planos memoráveis e deslumbrantes. O design de produção, o figurino, tudo é muito único e visualmente incrível. A trilha sonora é belíssima e inquietante, porém não é memorável.

Timothée Chalamet faz um Paul Atreides contido na primeira metade e cresce conforme a trama a avança e promete muita evolução no segundo filme. Mas sem dúvida, quem rouba as cenas é o Barão Harkonnen vivido pelo excelente Stellan Skarsgård. Ele pouco fala, mas quando surge em tela, causa calafrios. O restante do elenco está operante.

Eu realmente não conhecia nada além do “plot” da história, nunca li a obra e fiquei magnetizado com o filme. A sensação ao final foi de emendar imediatamente na segunda parte. Uma pena que teremos que esperar até 2023 para concluir esse sentimento.

A tragédia de Macbeth

É visualmente deslumbrante, com linhas minimalistas, enquadramentos muito criativos e com uma direção de arte e fotografia espetaculares. O filme nos suga para essa ambiente “noir teatral”, que nos primeiros minutos de tela nos causa enorme estranhamento, mas logo em seguida já estamos completamente imersos.

Como em qualquer peça de William Shakespeare, os personagens possuem muitas camadas e carga dramática acima da média. O elenco está impecável e destaco o ótimo trabalho da Frances McDormand que faz uma Lady Macbeth manipuladora que dá medo a cada vez que ela entra em cena.

Mas a grande estrela é Denzel Washington com o seu Macbeth que enlouquece aos poucos e que culmina num paranoico e sanguinário Rei da Escócia. Definitivamente, uma de suas melhores interpretações da sua vida.

Como não poderia deixar de ser um drama de Shakespeare, A tragédia de Macbeth é uma história simples sobre honra e dedicação, que logo migra para a manipulação de uma traição, passando por muita cobiça e que escala para barbárie e loucura.

Só não é nota máxima porque o texto ainda é muito restritivo e em certos momentos nos afasta da experiência, mas de resto, é impecável!

Ataque dos cães

Belíssima fotografia, com uma paleta alaranjada, o filme mostra a aridez do estado da Montana dos anos 1920. A trilha sonora trás um inquietante piano que eleva o clima nas cenas mais tensas.

Cumberbatch dá um show na pele do personagem Phill. A sensação é que ele explodirá a qualquer momento, e é o centro do filme. Mas há espaço também para a atuação de Jesse Plemons num papel contido, além das ótimas atuações da Kirsten Dunst e do Kodi Smit-McPhee.

Há também uma tensão homossexual entre os personagens Phill (Benedict Cumberbatch) e o seu sobrinho Peter (Kodi Smit-McPhee) e deixa sempre no ar esse clima de autoafirmação masculina e a possibilidade de alguma tragédia por conta disso.

Direção

Eu trocaria FÁCIL Kenneth Branagh de Belfast por Denis Villeneuve de Duna. Aliás, se tem uma coisa que me incomoda MUITO no Oscar é ver filmes na lista de melhores do ano e seus respectivos diretores fora da lista de indicados dessa categoria. Enfim, há uma evolução a seguir nesse sentido também!

Mas essa edição é Barbada máxima!!! Jane Campion fez um trabalho primoroso, sensível e absolutamente complexo em Ataque dos cães. Ela será sim a terceira mulher melhor diretora do Oscar. E isso será LINDO!!! 

Melhor filme

Para mim não há o menor sentido ter Licorice Pizza nessa lista e deixar de fora Tick, tick… Boom! É inaceitável!!! 

O musical é o meu filme favorito do ano por tanta sensibilidade e genialidade. O filme é repleto de sub-textos e metalinguagens. É um filme musical sobre um musical que nunca viu a luz do dia, de um genial compositor e diretor que depois fez um musical fazendo o musical que nunca viu a luz do dia e esse sim, foi sucesso! 

E esse musical foi o que inspirou o diretor desse filme! UFA!!! Perceberam o quanto isso é complexo de se explicar. Agora imagine você assistindo, entendendo e se emocionando.

Tick, tick… Boom! é divertido, é dramático, urgente e ainda sim entretém.

Uma grande injustiça para mim não vê-lo na lista de melhores filmes do ano!

Por conta disso a minha torcida vai para No ritmo do coração que entrega um filme lindo, sensível e que nos presenteia com um final de chorar por tanto amor que transborda. 

Ele tem poucas chances de vencer, mas quem sabe né!?

Resumo final

Protesto feito, o resumo é simples: Jane Campion fez o melhor filme do ano! Ataque dos cães incomoda o tempo todo, ele cria uma tensão constante, daquela em que você não consegue parar de ver porque quer entender até onde a história vai. 

O que o Phill será capaz de fazer? 

Será que ele vai matar o sobrinho, a cunhada, o irmão?

Todo mundo!? 

Tudo isso ambientando num filme de faroeste numa época mais recente onde não cabe mais as convenções do gênero, mas ainda sim ele é sujo, é antiquado, é preconceituoso.

É um filme que fica com a gente durante dias. Nós especulamos: o que teria acontecido com o Peter (Kodi Smit-McPhee) se o Phill (Benedict Cumberbatch) não tivesse morrido?

Aliás, a morte do Phill é intrigante, repentina e tão cheia de segredos e nebulosa quanto as suas próprias intenções sobre todos a sua volta.

Filmaço e última barbada dessa edição!