(Resenha com alguns ‘spoilers’. Leia por sua conta e risco!)
Com a pior audiência dos seus 93 anos, com apenas 9,85 milhões (contra 23,6 no ano anterior), a última edição do Oscar teve uma queda de 58% da audiência.
Esse ano a Academia terá que se virar nos 30 para oferecer uma 94a edição que recupere o glamour e prestígio dos anos anteriores. Claro que a pandemia e o distanciamento atrapalharam muito a cerimônia, mas a última edição não fugiu às polêmicas e trapalhadas, aumentando ainda mais o desinteresse do grande público.
Para se ter uma ideia, Steven Soderbergh que dirigiu a cerimônia, decidiu que a entrega do último prêmio seria de melhor Ator, contando que o vencedor seria Chadwick Boseman, apostando numa grande homenagem póstuma, no entanto o vencedor foi Anthony Hopkins (pelo filme Meu pai) que não compareceu.
Resumo: nem homenagem ao nosso eterno Pantera Negra, nem consagração do filme Nomadland. Um fiasco!
Enfim, o desafio da Academia é enorme, mas vamos ver o que acontece! Filmes bons e ótimos é o que não falta!
Lembrando que esses e outros filmes estão na minha lista Oscarizáveis!
Estreia do selo "Não sou capaz de opinar"
Em todas as edições, sempre há alguns filmes que eu não consigo assistir e outros eu realmente não tenho interesse e esse ano eu criei um selo especial!
“Não sou capaz de opinar!”
E a lista de filmes desse ano que levam o selo é:
- A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
- Cruella
- Cyrano
- Drive my car
- Flee
- Free Guy
- O beco do pesadelo
- Raya e o Último Dragão
- 007 - Sem Tempo Para Morrer
- Spencer
Filmes esnobados
- Identidade - Um filme muito intrigante, que faz a gente pensar as inúmeras camadas e formas de racismo da nossa sociedade. Uma pena a não indicação da Ruth Negga como melhor atriz.
- Mass - Filme baseado em interpretações que são verdadeiros socos no estômago! Inaceitável não ter a Ann Dowd indicada como melhor atriz também!
- The Humans - Outro filme que é puro roteiro. Ele é incômodo, realista, malicioso e MUITO sensível.
Design de produção
- Duna
- Ataque dos cães
- O beco do pesadelo (Não assisti)
- A tragédia de Macbeth
- Amor, sublime amor
A tragédia de Macbeth é simplesmente lindíssimo! Cada “frame” é uma pintura, uma verdadeira obra-prima, mas eu acredito que será o vencedor da noite será Duna mesmo, que também é deslumbrante.
Edição
- Não olhe para cima
- Duna
- King Richard: criando campeãs
- Ataque dos cães
- Tick, tick... boom!
Essa é uma categoria que eu acho barbada. Não vejo ninguém melhor que Não olhe para cima.
Fotografia
- Duna
- Ataque dos cães
- O beco do pesadelo (Não assisti)
- A tragédia de Macbeth
- Amor, sublime amor
Efeitos visuais
- Duna
- Free guy (Não assisti)
- 007 - Sem Tempo para Morrer (Não assisti)
- Shang-Chi e a lenda dos dez anéis (Não assisti)
- Homem-Aranha: Sem volta para casa
Duna realiza uma obra há muito sonhada pelos fãs da obra de Frank Herbert. Com soluções visuais que ajudam muito com a narrativa do filme. É muito favorito!
Maquiagem e cabelo
- Um Príncipe em Nova York 2 (Não assisti)
- Cruella (Não assisti)
- Duna
- Os olhos de Tammy Faye
- Casa Gucci
Exagerado na medida certa, acho que Os olhos de Tammy Faye leva esse prêmio facilmente. Basta pesquisar o nome dos personagens no Google e conferir que o trabalho é impecável! No entanto Casa Gucci pode surpreender.
Canção original
- Be Alive - "King Richard: criando campeãs
- Dos Oruguitas - "Encanto"
- Down To Joy - "Belfast"
- No time to die - "007 - Sem tempo para morrer" (Não assisti)
- Somehow you do -"Four good days" (Não assisti)
Acho muito difícil a Beyoncé perder esse prêmio, mas eu torço para que a música do Sebastián Yatra de Encanto ganhe. Apesar de achar que a música desse filme deveria ser We Don’t Talk About Bruno, Top10 no Spotify!
Som
- Belfast
- Duna
- 007 - Sem tempo para morrer (Não assisti)
- Ataque dos cães
- Amor, sublime amor
Mais um prêmio técnico para Duna, outra barbada!
Animação
- Encanto
- Flee (Não assisti)
- Luca
- A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (Não assisti)
- Raya e o último dragão (Não assisti)
Difícil não dar Disney esse ano! Com 3 candidatos, Encanto caiu no gosto popular e merece! A história é fofa, os personagens são carismáticos, mas A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas pode surpreender!
Trilha sonora
- Não olhe para cima
- Duna
- Encanto
- Mães paralelas
- Ataque dos cães
A trilha de Jonny Greewood de Ataque dos cães é incômoda, tensa e sensível, mas não memorável.
Figurino
- Cruella (Não assisti)
- Cyrano (Não assisti)
- Duna
- O beco do pesadelo (Não assisti)
- Amor, sublime amor
Mais uma categoria que eu não consigo opinar. Meu chute é Duna!
Roteiro original
- Belfast
- Não olhe para cima
- King Richard: criando campeãs
- Licorice pizza
- A pior pessoa do mundo
Essa categoria me surpreende muito por ter Belfast e Licorice Pizza como indicados, que não merecem! O primeiro é água com açúcar e o segundo é chatíssimo! Já Não olhe para cima é ácido, sagaz, provocador e direto nas várias camadas de críticas do roteiro! Pra mim é outra barbada dessa edição!!!
Roteiro adaptado
- No ritmo do coração
- Drive my car
- Duna
- A filha perdida
- Ataque dos cães
Personagens com muitas camadas, diálogos inteligentíssimos, o roteiro de Ataque dos cães é sublime! Fim!!!
Filme internacional
- Drive my car - Japão (Não assisti)
- Flee" - Dinamarca (Não assisti)
- A Mão de Deus - Itália (Não assisti)
- A Felicidade das Pequenas Coisas - Butão (Não assisti)
- A Pior Pessoa do Mundo - Noruega
Mais uma categoria selo Não sou capaz de opinar, o único filme que vi dessa lista é o que eu estou torcendo!😅
Ator coadjuvante
- Ciarán Hinds - "Belfast"
- Troy Kotsur - "No ritmo do coração"
- Jesse Plemons - "Ataque dos cães"
- J.K. Simmons - "Apresentando os Ricardos"
- Kodi Smit-McPhee - "Ataque dos cães"
Com exceção de J.K. Simmons, que é um ator espetacular, em Apresentando Ricardos ele está apenas operante nesse filme. O restante é briga feia, mas acho que dá Kodi Smit-PcPhee por Ataque dos cães. Há quem diga que ele é o serial killer do filme e que foi ele quem matou o Phill Burbank (Benedict Cumberbatch).
Mas fica a minha torcida para Troy Kotsur interpretando o engraçadíssimo e sensível Frank Rossi em No ritmo do coração.
Atriz coadjuvante
- Jessie Buckley - "A filha perdida"
- Ariana DeBose - "Amor, sublime amor"
- Judi Dench - "Belfast"
- Kirsten Dunst - "Ataque dos cães"
- Aunjanue Ellis - "King Richard: criando campeãs"
Ariana DeBose está deslumbrante em Amor, sublime amor. É praticamente certa a sua vitória, mas a minha torcida vai para a Jessie Buckley em A filha perdida. As cenas que ela faz com as personagens das filhas é assustador! Não consigo me imaginar dizendo nenhuma das suas falas para os meus filhos.
Ator
- Javier Bardem - "Apresentando os Ricardos"
- Benedict Cumberbatch - "Ataque dos cães"
- Andrew Garfield - "Tick, tick... Boom!"
- Will Smith - "King Richard: criando campeãs"
- Denzel Washington - "A tragédia de Macbeth"
Vira e mexe tem o Oscar da vez. Nessa edição vai acontecer com o Will Smith. Não é nem de longe o seu melhor trabalho, mas tudo indica que ele receberá o prêmio de melhor ator. Torço muito para Andrew Garfield de Tick, tick… Boom! mas acho muito difícil que aconteça. Uma pena!
Atriz
- Jessica Chastain - "Os olhos de Tammy Faye"
- Olivia Colman - "A filha perdida"
- Penélope Cruz - "Mães paralelas"
- Nicole Kidman - "Apresentando os Ricardos"
- Kristen Stewart - "Spencer" (Não assisti)
Aqui vale o protesto sobre a ausência da Renate Reinsve em A pior pessoa do mundo. Eu colocaria ela facilmente no lugar da Penélope Cruz de Mães paralelas.
Elogiar o trabalho da atriz Olivia Colman é chover no molhado, por isso a minha torcida, mas eu não me surpreenderia se a Nicole Kidman ganhasse. Mas acho que vai dar a Jessica Chastain. Ela está ótima!
Indicados mas são decepcionantes!
- Um príncipe em Nova York 2 - Caça-níquel desnecessário! Não suportei 10 minutos de tanta baixaria!
- Licorice Pizza - Inacreditável que um filme tão fraco seja cogitado com melhor filme e direção. O que salvam são as atuações dos protagonistas. Chatíssimo!!!
- Casa Gucci - Um dos filmes que eu mais queria assistir nessa edição mas que foi completamente decepcionante. Mal escrito, interpretado e montado. O filme é uma BAGUNÇA completa!
Indicados que são ok
- Madres paralelas - Nem de longe um bom filme do Almodóvar!
- King Richard: Criando Campeãs - Típica cinebiografia feita para o Oscar. Bem raso! Esperava MUITO mais!!!
- Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis - Efeitos, coreografia e só!
- Os olhos de Tammy Faye - Mais uma cinebiografia pensada no Oscar. Com boas interpretações, mas é bem morno!
- Luca - Pixar sempre faz filmes com personagens carismáticos e histórias que emocionam.
- Homem-Aranha: Sem Volta para Casa - "Fan service" do começo ao fim. É bem divertido.
- Encanto - Uma história bacaninha, com boas músicas e com alguns personagens carismáticos.
- Belfast - Um ator fofo (Jude Hill) no papel principal, e uma história bem bonitinha e só!
- A Pior Pessoa do Mundo - Filme interessante, intrigante e incômodo.
Bons filmes indicados
- Apresentando os Ricardos - Uma cinebiografia de uma atriz icônica e uma intepretação digna de Oscar para Nicole Kidman!
- Amor, sublime amor - Um musical clássico com o toque mágico do Steven Spielberg. Dizem que é melhor que o original.
Indicados que eu gostei muito
- Não olhe para cima - Crítca ácida, sagas e surrealista e absolutamente realista!
- No Ritmo do Coração - Lindo, sensível e muito fofo de assistir.
- A filha perdida - Um dos filmes mais incômodos da temporada e uma das melhores interpretações de uma mesma personagem por duas excelente atrizes!
Filmaços!!!
Tick, tick... Boom!
A montagem é impecável! Sem o clássico “voice-over” típicos em cinebiografias, Jonathan Larson narra a sua história de cima do palco do próprio musical. A convenção de gênero típica de um musical é quebrada justamente por não ter todas as falas cantadas, mas ainda sim o filme tem ótimas canções, porém sem danças, mas tem algumas coreografias.
Andrew Garfield entrega um Jonathan Larson visceral, apaixonado, inquieto, criativo e sobretudo frágil. Ele mostra um personagem com todas as suas falhas, apesar de sua genialidade cativante. Mereceu MUITO essa indicação!
O restante do elenco é operante, com mais destaque para o carismático personagem do Michael (Robin de Jesus).
Eu assisti sem ter nenhuma ideia do que se tratava o filme, a não ser que era dirigido por Lin-Manuel Miranda (Hamilton e In the Heights). Só depois de assistir o filme é que eu soube que a carreira desse diretor foi influenciada pelo musical do Larson.
Uma belíssima homenagem em todos os detalhes da produção e direção.
Duna
Ponto alto do filme, sem dúvida é justamente a parte técnica. Fotografia espetacular! Como eu disse antes, cada frame é uma obra-prima, muitos planos memoráveis e deslumbrantes. O design de produção, o figurino, tudo é muito único e visualmente incrível. A trilha sonora é belíssima e inquietante, porém não é memorável.
Timothée Chalamet faz um Paul Atreides contido na primeira metade e cresce conforme a trama a avança e promete muita evolução no segundo filme. Mas sem dúvida, quem rouba as cenas é o Barão Harkonnen vivido pelo excelente Stellan Skarsgård. Ele pouco fala, mas quando surge em tela, causa calafrios. O restante do elenco está operante.
Eu realmente não conhecia nada além do “plot” da história, nunca li a obra e fiquei magnetizado com o filme. A sensação ao final foi de emendar imediatamente na segunda parte. Uma pena que teremos que esperar até 2023 para concluir esse sentimento.
A tragédia de Macbeth
É visualmente deslumbrante, com linhas minimalistas, enquadramentos muito criativos e com uma direção de arte e fotografia espetaculares. O filme nos suga para essa ambiente “noir teatral”, que nos primeiros minutos de tela nos causa enorme estranhamento, mas logo em seguida já estamos completamente imersos.
Como em qualquer peça de William Shakespeare, os personagens possuem muitas camadas e carga dramática acima da média. O elenco está impecável e destaco o ótimo trabalho da Frances McDormand que faz uma Lady Macbeth manipuladora que dá medo a cada vez que ela entra em cena.
Mas a grande estrela é Denzel Washington com o seu Macbeth que enlouquece aos poucos e que culmina num paranoico e sanguinário Rei da Escócia. Definitivamente, uma de suas melhores interpretações da sua vida.
Como não poderia deixar de ser um drama de Shakespeare, A tragédia de Macbeth é uma história simples sobre honra e dedicação, que logo migra para a manipulação de uma traição, passando por muita cobiça e que escala para barbárie e loucura.
Só não é nota máxima porque o texto ainda é muito restritivo e em certos momentos nos afasta da experiência, mas de resto, é impecável!
Ataque dos cães
Belíssima fotografia, com uma paleta alaranjada, o filme mostra a aridez do estado da Montana dos anos 1920. A trilha sonora trás um inquietante piano que eleva o clima nas cenas mais tensas.
Cumberbatch dá um show na pele do personagem Phill. A sensação é que ele explodirá a qualquer momento, e é o centro do filme. Mas há espaço também para a atuação de Jesse Plemons num papel contido, além das ótimas atuações da Kirsten Dunst e do Kodi Smit-McPhee.
Há também uma tensão homossexual entre os personagens Phill (Benedict Cumberbatch) e o seu sobrinho Peter (Kodi Smit-McPhee) e deixa sempre no ar esse clima de autoafirmação masculina e a possibilidade de alguma tragédia por conta disso.
Direção
- Kenneth Branagh - "Belfast"
- Hamaguchi Ryusuke - "Drive my car" (Não assisti)
- Jane Campion - "Ataque dos cães"
- Steven Spielberg - "Amor, sublime amor"
- Paul Thomas Anderson - "Licorice Pizza"
Eu trocaria FÁCIL Kenneth Branagh de Belfast por Denis Villeneuve de Duna. Aliás, se tem uma coisa que me incomoda MUITO no Oscar é ver filmes na lista de melhores do ano e seus respectivos diretores fora da lista de indicados dessa categoria. Enfim, há uma evolução a seguir nesse sentido também!
Mas essa edição é Barbada máxima!!! Jane Campion fez um trabalho primoroso, sensível e absolutamente complexo em Ataque dos cães. Ela será sim a terceira mulher melhor diretora do Oscar. E isso será LINDO!!!
Melhor filme
- Amor, sublime amor
- Ataque dos cães
- Belfast
- Drive my car (Não assisti)
- Duna
- Licorice pizza
- King Richard: criando campeãs
- Não olhe para cima
- No ritmo do coração
- O beco do pesadelo (Não assisti)
Para mim não há o menor sentido ter Licorice Pizza nessa lista e deixar de fora Tick, tick… Boom! É inaceitável!!!
O musical é o meu filme favorito do ano por tanta sensibilidade e genialidade. O filme é repleto de sub-textos e metalinguagens. É um filme musical sobre um musical que nunca viu a luz do dia, de um genial compositor e diretor que depois fez um musical fazendo o musical que nunca viu a luz do dia e esse sim, foi sucesso!
E esse musical foi o que inspirou o diretor desse filme! UFA!!! Perceberam o quanto isso é complexo de se explicar. Agora imagine você assistindo, entendendo e se emocionando.
Tick, tick… Boom! é divertido, é dramático, urgente e ainda sim entretém.
Uma grande injustiça para mim não vê-lo na lista de melhores filmes do ano!
Por conta disso a minha torcida vai para No ritmo do coração que entrega um filme lindo, sensível e que nos presenteia com um final de chorar por tanto amor que transborda.
Ele tem poucas chances de vencer, mas quem sabe né!?
Resumo final
Protesto feito, o resumo é simples: Jane Campion fez o melhor filme do ano! Ataque dos cães incomoda o tempo todo, ele cria uma tensão constante, daquela em que você não consegue parar de ver porque quer entender até onde a história vai.
O que o Phill será capaz de fazer?
Será que ele vai matar o sobrinho, a cunhada, o irmão?
Todo mundo!?
Tudo isso ambientando num filme de faroeste numa época mais recente onde não cabe mais as convenções do gênero, mas ainda sim ele é sujo, é antiquado, é preconceituoso.
É um filme que fica com a gente durante dias. Nós especulamos: o que teria acontecido com o Peter (Kodi Smit-McPhee) se o Phill (Benedict Cumberbatch) não tivesse morrido?
Aliás, a morte do Phill é intrigante, repentina e tão cheia de segredos e nebulosa quanto as suas próprias intenções sobre todos a sua volta.
Filmaço e última barbada dessa edição!