OSCAR 2018: engajado, ‘pero no mucho’!
(Resenha com alguns ‘spoilers’. Leia por sua conta e risco!)
Claro que o tom da edição do Oscar desse ano é pautado pelo escândalo de assédio sexual que ganhou força com as denúncias sobre o Harvey Weinstein, o todo poderoso da Miramax e The Weinstein Company.
Desde então, a cada dia vemos mais e mais mulheres criando coragem para compartilhar seus relatos, o que motivou a criação de uma iniciativa chamada Time’s Up.
Esse ativismo ficou latente com o emocionante discurso da Oprah Winfrey na última edição do Globo de Ouro, que pavimentou o tom das premiações à seguir, e claro, o Oscar certamente terá essa influência.
Claro que esse movimento não refletiu na lista de indicados ainda, mas ler os nomes da Greta Gerwig (Lady Bird) concorrendo como melhor diretora e Rachel Morrison (Mudbound) por melhor fotografia, nos dão uma esperança de que as próximas edições terão uma relação por gênero mais equilibrada, mas que acima de tudo, o que queremos mesmo, é que assédio sexual na indústria, e na vida, seja abolido de uma vez por todas.
‘Pero no mucho’
Apesar desse sentimento de empoderamento, infelizmente eu não me senti engajado pelos filmes esse ano. Dos 9 indicados para melhor filme, eu não consegui assistir 2.
Tentei ver “Me chame pelo seu nome”, mas não aguentei. Vi 30 minutos e não fui adiante. Já “Trama Fantasma” e não consegui ter acesso mesmo!
E como eu sempre faço, eu tentei assistir todos os filmes que tinham indicação em alguma categoria, mesmo que não fosse de melhor filme e usei o critério dos outros anos anteriores: Fiz duas listas básicas, a de filmes ignorados e indicados pela Academia, e assim eu classifiquei os filmes como Decepção, Filme ok, Bom filme, Gostei muito e Filmaço.
Vamos lá então para as minhas análises:
Filmes que eu não consegui (ou desisti de) assistir
Indicados
- A Grande Jogada (Molly’s Game)
- Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent)
- Me Chame pelo Seu Nome (Call Me by Your Name)
- O Artista do Desastre (The Disaster Artist)
- O Rei do Show (The Greatest Showman)
- Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World)
- Trama Fantasma (Phantom Thread)
- Victoria e Abdul (Victoria & Abdul)
- Viva — A Vida É uma Festa (Coco)
Ignorados
- Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express)
- Extraordinário (Wonder)
Ignorados pela Academia:
Decepção
Mãe! (Mother!)
Extremamente incômodo e muito difícil de ser assistido.
Aí eu procuro saber o motivo de tanto bafafá sobre o filme e vejo teorias e metáforas sobre mãe-natureza, sincronia de passagens bíblicas, etc.
Ok, você quer acreditar nisso? Pode acreditar, sem problemas. Mas, se eu não sinto isso NA HORA em que estou assistindo, não é porque a Internet está teorizando é que faz com que esse filme seja f*da nesse objetivo!
Claro, o filme tecnicamente é muito bom para o que ele se propõe. A câmera na mão tem o propósito de nos fazer ter a mesma perspectiva que a da Jennifer Lawrence, o design de som é inacreditável e as interpretações são excelentes.
Mas pra mim, fora isso, ou o filme entrega esse conceito, ou então ele falhou. A minha sensação é de que eu perdi 2h da minha vida vendo Mother! (Mãe!).
Thor: Ragnarok (Thor: Ragnarok)
Nem comédia, nem aventura, história boba. Uma risada aqui, outra ali. Sinceramente, não entendi o porquê da mudança tão abrupta do estilo do filme em relação aos seus antecessores.
Filme Ok
Doentes de Amor (The Big Sick)
Doentes de amor conseguiu uma enorme façanha: me afazer assistir uma comédia romântica e me divertir. Mesmo com ‘clichês’ típicos do gênero, foi ao mesmo tempo surpreendente e me fez rir uma boa muitas vezes.
O que te faz mais forte (Stronger)
Esse é mais um daqueles filmes que são baseado em fatos, e que possuem uma história de vida muito forte, mas como filme, ficam aquém por falta de uma narrativa mais bem desenvolvida.
Como fato real, emociona, como filme, não muito.
Bom filme
A Guerra dos Sexos (Battle of the Sexes)
Uma história real bastante inusitada e MEGA importante sobre a discussão de gêneros. Com incrível performance dos dois protagonistas Emma Stone e Steve Carell o filme é muito bem ambientado em 1973, dos cortes de cabelo, passando pelos figurinos e direção de arte. Pena que a discussão sobre homossexualidade feminina ficou em segundo plano.
Indicados pela Academia:
Decepção
Blade Runner 2049 (Blade Runner 2049)
O filme é MUITO inferior ao de 1982. Nem a ótima trilha de Hans Zimmer salva. Ou seja, é injustificável ele existir.
Lady Bird — Hora de Voar (Lady Bird)
Com diálogos que parecem que foram retirados do Snapchat de tão picotados, Lady Bird é entendiante e sem profundidade. Isso sem falar de uma atriz de 25 anos fazendo o papel de uma adolescente de 17.
Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)
Mais uma vez o monstro da expectativa me tirou o chão. Cheguei para assistir Baby Drive com uma vontade louca de ver o melhor filme do ano, principalmente por causa dos relatos sobre a edição milimetricamente sincronizada com a ótima trilha e do quanto o filme te prenderia a respiração e o que vi foi UMA cena incrível, que vimos quase na íntegra nos trailers e uma roteiro fraquíssimo, com frase bobas e uns bandidos muito meia-boca.
A Bela e a Fera (Beauty and the Beast)
Quando os primeiros vídeos de fãs saíram na Internet mostrando como as cenas eram perfeitas em sua aparência com a animação de 1991, óbvio que eu criei (mais uma vez) um monstro de expectativa!
O que se viu em tela foi um CGI fraco, quase mal-feito, e um enorme desperdício no trabalho de atores que ficaram completamente ocultos num ‘render’ bem pouco inspirado dos personagens secundários e que não chegou nem perto da beleza da animação original.
Filme Ok
Corra! (Get Out!)
Sinceramente não entrei no ‘hype’ desse filme como genial.
Ok, tem lá o seu suspense, você fica incomodado o tempo todo, mas apenas cumpre o seu papel sobre o debate relacionado ao racismo e como ele se encaixa numa trama de suspense.
A premissa é bem interessante, mas é ó isso.
Roman J. Israel, Esq. (Roman J. Israel, Esq.)
Estranho e sensível. É assim que eu defino Roman J. Israel, Esq.
O filme passa uma mensagem de valores de vida muito importante, como pobreza, racismo e honestidade, porém se perde muito no “juridiquês” de várias cenas, gerando uma barriga mega confusa no segundo ato. Mas, ainda sim, a mensagem fica.
Planeta dos Macacos: a Guerra (War for the Planet of the Apes)
É mais fraco que o segundo filme da trilogia, mas é melhor do que o primeiro. Mesmo assim, é muito impressionante ver até onde o protagonista Cesar vai para salvar o seu povo sem ter que iniciar uma guerra. Tecnicamente impecável, principalmente nas expressões baseadas na ótima e inovadora captura de movimentos.
Mudbound (Mudbound)
Boas interpretações e uma narrativa sobre o racismo ambientado num contexto ainda não explorado em filmes (pelo menos eu não lembro de nenhum!).
A fotografia merece a indicação da Rachel Morrison, que entrega um filme melancólico, vibrante e sensível.
Bom filme
Projeto Flórida (The Florida Project)
Confesso que não curto filmes no estilo de que não possuem roteiros, com cenas picotadas e personagens que falam como pessoas reais que não são atores (tipo “Boyhood: Da Infância à Juventude”), mas Projeto Flórida me pegou totalmente desprevenido.
Muito se deve pelo fato dos principais personagem serem crianças. Assisti-lo é um exercício de resistência e reflexão sobre uma faixa da sociedade que vivem à margem do mínimo de vida digna.
Pobreza, falta de perspectiva, prostituição, drogas, ilegalidade e tantas outras coisas narradas por vozes infantis são um soco verdadeiro no estômago.
Eu, Tonya (I, Tonya)
Uma vida 100% conturbada. Assim eu definiria o filme sobre a vida de Tony Harding.
Já o filme é tecnicamente muito bom, alternado cenas mescladas com depoimentos, imagens envelhecidas e quebra da 4ª parede, o que dão dinamismo e uma grande imersão na época.
A tomadas esportivas são muito convincentes e bem executadas, principalmente depois de saber que há ‘motion capture’ para colocar o rosto da Margot Robbie na patinadora.
O filme só não levou uma nota maior pois resistiu a tentação no final de encerrar com a sua redenção.
O Destino de Uma Nação (Darkest Hour)
Gary Oldman está maravilhoso no papel de Winston Churchill. O jeito de proferir as palavras, sotaque, expressão corporal, maneirismos, está tudo ali. Destaque também para ótima maquiagem que convenceu que estamos de frente para o próprio Churchill em tela.
Sobre o filme, ele deixa a desejar na falta da carga dramática exigida pelo o fato histórico. Em momento nenhum do filme sentimos o peso daquela encruzilhada da Segunda Guerra. Como o foco do filme é a forma como Churchill lida com as suas tomadas de decisões frente às inúmeras especulações políticas, o fato histórico perde em dramaticidade. Se unissem “O Destino de Uma Nação” com o filme “Dunkirk” seria perfeito, pois o drama seria completo.
Dunkirk (Dunkirk)
Não é a melhor obra de Nolan, mas tecnicamente cumpre bem o seu papel. Tem um senso de urgência que não condiz com a realidade daquele evento, mas é visualmente bonito e tem uma excelente ambientação de época.
Nota mental: Alguém precisa dar um toque no Tom Hardy de que ele está na profissão errada.
A Forma da Água (The Shape of Water)
A forma da água impressiona com os mínimos detalhes de que cada elemento em cena. Tem uma cenografia linda, passa pela ótima trilha sonora e culmina na interpretação incrível da Sally Hawkins. Sem dizer nenhuma palavra, ela diz mais com olhar, um leve sorriso do que a tagarela da Octavia Spencer.
A história de amor da trama é levemente forçada, e o roteiro tem muitas conveniências e facilitações. O que se vê em tela é um filme delicado e sensível, mas não genial.
Gostei muito
Star Wars — Os últimos Jedi (Star Wars — The last Jedi)
Cada vez mais a nova saga de filmes de Star Wars conquista mais e mais fãs, e The Last Jedi consolida essa nova fase.
O filme é épico, possui cenas tecnicamente muito bem-feitas. Minhas ressalvas são o desnecessário romance dos personagens Finn e Rose, além da patética participação do Snoke. Que apesar da ótima cena de sua morte pela Rey e Kylo Ren, que foi preparado para ser um super-vilão no filme anterior, e PUFF, já morreu!
Pontos altos foram as ótimas batalhas de naves e claro, a lindíssima participação e despedida do Luke Skywalker. Foi de arrepiar!
The Post — A Guerra Secreta (The Post)
Criar um filme onde nós espectadores já sabemos o desfecho da história é um desafio e tanto, mas The Post entrega uma ótima experiência para os espectadores.
O filme é uma escalada intensa onde o topo da montanha é a vitória da liberdade de imprensa com a verdade acima da manipulação de um governo opressor.
Destaque para Meryl Streep que está mais uma vez espetacular (pleonasmo sempre permitido!). Ela oscila momentos entre a insegurança de uma mulher que não foi criada para estar naquele momento, e uma líder de coragem que sabe qual é o seu papel a cumprir. Os diálogos com o Tom Hanks são a cereja do bolo, além de um excelente time de atores de apoio.
Forte candidato ao Oscar desse ano!
Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Esse é um daqueles filmes que te pegam na primeira cena e temos a sensação constante que ele é dirigido pelos irmãos Coen. Diretores em que ou você ama, ou odeia.
3 anúncios para um crime tem uma narrativa um tanto estranha, que beira ao humor-negro, numa história de uma família que sofreu uma enorme tragédia.
Com diálogos e reviravoltas típicas do nosso cotidiano, esse é um filme que fica com você durante um tempo após assisti-lo, fazendo refletir e entendendo-o melhor.
Filmaço
Logan (Logan)
C*lhões, isso define a história de Logan!
Chega de filme de super-heróis que fazem coisas espetaculares com poderes muito além dos humanos. Logan é uma visão genial sobre esse universo, deixando-o com pé no chão e só não tirou 5 estrelas porque aquela conveniência narrativa do vídeo editado do celular da Gabriela bem ‘for dummies’.
O “X” da lápide foi a coisa mais genial já feita num filme de herói! Para Hugh Jackman, foi uma linda despedida do personagem que entregou o melhor filme da sua carreira interpretando Wolverine.
Minhas apostas para os vencedores do Oscar 2018
- Melhor filme: Três Anúncios para um Crime (Meu filme favorito é Logan, mas como ele não concorre eu torço por Três Anúncios para um Crime!!!)
- Melhor diretor: Guillermo del Toro (É o meu favorito também!)
- Melhor ator: Gary Oldman (Ninguém tira esse Oscar dele!!)
- Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell (Prefiro o Willem Dafoe.)
- Melhor Atriz: Frances McDormand (Pra mim a melhor foi Sally Hawkins.)
- Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney (Também acho!)
OSCAR 2018 was originally published in Eu, @cristianoweb on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.