Pai, hoje é dia 13 de março

Essa foi a primeira frase que o meu filho disse para mim ontem.
Ele está há um ano sem tratamento e sofre sem a convivência dos seus amigos,
além da falta que a terapia faz.
Todos os dias ele me pergunta quando a pandemia vai acabar!
TODOS OS DIAS!!!

Na minha casa, definitivamente ele é quem mais sofre com o que está acontecendo!

Confesso que eu não queria falar sobre esse assunto.
Tanta gente já escreveu sobre um de pandemia.
Matérias,
reportagens,
relatos,
documentários,
vídeos.

Na boa, eu estou muito cansado!

Cansado de lutar.
Cansado de ser resistente.
Cansado de enfrentar a pandemia.

Mas eu estou mais cansado das pessoas.

Cansado de ver gente sem máscaras.
De ver pessoas falando do seu direito individual de não se vacinar,
de ver festas, comemorações no meu entorno
como se nada tivesse acontecendo.

O que falta acontecer para levarmos a sério o que estamos passando?
Quantas pessoas precisam morrer para isso acontecer?
Duas mil por dia não é suficiente?
10 mil seria?
100 mil?
Quantas?

Claro que a vida tem que seguir seu fluxo,
e que nada é simples de resolver.
Há infinitas complexidades a serem geridas,
mas eu não consigo entender como alguém consegue olhar em volta e achar tudo normal.
É só mais um dia como outro qualquer,
um pequeno desvio e pronto, vida normal!

Em um ano de pandemia o que mais me assusta não é a letalidade da COVID19,
mas a indiferença das pessoas pelo drama do outro,
a falta de empatia.

Vejo isso em todos os lugares,
travestido de relacionamento genuíno,
de retóricas vazias,
de papo-furado.

Familiares,
amigos,
conhecidos,
vizinhos,
colegas de trabalho,
clientes,
figuras públicas,
e claro, políticos e governantes!

Enquanto isso o meu filho fica sem resposta.
Sem esperança,
sem perspectiva,
entediado.
Não há criatividade que dê conta.

Muita gente pergunta qual será a primeira coisa que cada um de nós faria quando isso tudo acabasse.

Praia,
piscina,
shopping,
barzinho,

Eu só queria levar o Nick para a terapia!