OSCAR 2017 — Enfim, uma edição plural

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Depois de uma edição de 2016 tumultuada e envolvida por denúncias de racismo e misoginia, a Academia mexeu os pauzinhos e mudou as regras, e acima de tudo, trouxe para a votação um time mais heterogêneo, e o que vimos foi uma edição plural e que representa bem toda a sociedade.

Nunca houve tantas indicações para atores e diretores negros quanto na 89ª edição do Oscar. Temas como racismo, homossexualidade, sexismo, e pasmem, amor, voltaram com tudo e espero que venham pra ficar!

Explicando sobre as minhas avaliações

Ao contrário das últimas edições, esse ano eu não consegui assistir alguns filmes. Tanto da lista de ignorados pela Academia como os indicados. São eles:

Ignorados:

  • The founder (Fome de poder)
  • The Birth of a Nation (O Nascimento de Uma Nação)
  • A monster calls (Sete Minutos depois da meia-noite)
  • The BGF (O Bom Gigante Amigo)
  • The Free State of Jones (Um Estado de Liberdade)
  • The Girl on the Train (A garota do trem)

Indicados:

  • 20th Century Women (20th Century Women)
  • Elle (Elle)
  • Kubo and the two string (Kubo e a Espada Mágica)
  • Hail, Caesar! (Ave, Cesar!)
  • Fantastic Beasts and Where to Find Them (Animais fantásticos e onde habitam)
  • Deepwater horizon (Horizonte Profundo: Desastre no Golfo)

Já os filmes que eu consegui assistir, como sempre faço (veja edições anteriores), eu organizei as avaliações classificando os filmes pelas categorias Decepção, bom filme, gostei muitofilmaço.

Rejeitados pela Academia

Cheguei a começar a assistir os filmes que ficaram de fora da lista de indicados e fui anotando as minhas opiniões. Porém nenhum deles eu consegui classificar como “gostei muito” ou “filmaço”. Ou seja, a rejeição da Academia foi justificada! Por isso, esse ano eu resolvi só fazer algumas menções honrosas:

Triple 9 (Triplo 9)

Com um verdadeiro ‘Dream Team” de atores, Triplo 9 te deixa ligado do começo ao fim da trama. Destaque para os personagens Jeffrey Allen (Woody Harrelson) e Irina Vlaslov (Kate Winslet).

The light between oceans (A Luz Entre Oceanos)

Esse é um daqueles filmes para se ver sem pressa sobre a vida do casal Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e Isabel Graysmark (Alicia Vikander) que vivem na ilha de um farol. Seu drama particular leva o público a se questionar sobre as decisões difíceis que temos que fazer em algum momento e que refletem nas nossas vidas e de outras pessoas.

Destaque para fotografia lindíssima e trilha sonora bastante emotiva, e claro, para a entrada da personagem Hannah Roennfeldt vivida pela ótima Rachel Weisz.

Money Monster (Jogo do Dinheiro)

Um filme tenso, e acreditem, é também engraçado e reflexivo. Foi muito interessante ver um trabalho do George Clooney bem diferente do habitual.

O filme te leva a refletir sobre como certos programas pseudo-educativo transvestidos de entretenimento e como isso impacta na vida das pessoas comuns.

Lista de filmes indicados

Decepção

Arrival (chegada)

Quando eu consegui assistir Arrival ( chegada) eu já estava envolvido num ‘hype’ inacreditável e a minha curiosidade e expectativa estavam nas alturas, porém eu só achei o filme “ok”. Se não fosse a enxurrada de conteúdos falando sobre filosofias de vida e tudo mais do filme, certamente ele estaria na lista de bom filme.

Mas claro que o filme tem as suas qualidades. Ele é visualmente lindíssimo! Um dos melhores desse ano eu diria. Os efeitos visuais estão na medida certa, sem exageros. A trilha sonora dá um “climão maneiro” sobre a dúvida da sociedade em relação aos nossos visitantes ‘heptapod’, mas é só! Assisti o filme duas vezes e nem a Amy Adams me fez mudar de ideia!

The Lobster (O lagosta)

Ok, o ‘plot’ desse filme me deixou muito curioso e intrigado. Ainda mais com a indicação de melhor roteiro original no Oscar. Mas sinceramente lá pelos 20 minutos de película eu já não aguentava mais assisti-lo e não via a hora dele terminar. Para uns isso é bom, pois significa que o filme cumpriu o seu papel me deixando desconfortável, intrigado, reflexivo.

O fato é que eu não comprei o desenvolvimento da trama, odiei o roteiro e terminei com a sensação de perda de tempo enorme. Vai ver que eu não fui capaz de compreendê-lo.

Passengers (Passageiros)

Dizer que que fiquei decepcionado por assistir um filme com a Jennifer Lawrence e Chris Pratt chega ser uma ironia da minha parte, porque o filme é apenas isso.

Nem romance, nem ficção científica, nem aventura.

Não perca o seu tempo!

Bom filme

13 Hours: The secret soldiers of Benghazi (13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi)

Nunca imaginei ver o John Krasinski, o Jim da série The Office, num papel como esse.

Zootopia (Zootopia)

Divertido, visualmente lindo e com um ‘timming’ ácido dos dias atuais. A riqueza dos personagens encarnados numa variedade enorme de animais e claro, a mensagem moral, padrão do estúdio.

Moana (Moana: Um Mar de Aventuras)

É tão bom ver personagens femininas como protagonistas nos filmes. Em animação então, nem se fala! Moana quebra paradigmas e coloca um Semi-Deus como ‘sidequick’ de uma humana com cara de humana e dilemas humanos.

O visual é estonteante e os números musicais são bastante marcantes e mesmo com o ‘template Disney’, Moana tem um final de tirar o fôlego!

Doctor Strange (Doutor Estranho)

Confesso que nunca tinha ouvido falar em Doutor Estranho antes do anúncio que o Benedict Cumberbatch iria interpretá-lo. Nunca gostei do núcleo de HQs mais fantásticas da Marvel e torci o nariz para assisti-lo e o que vi foi surpreendente.

Uma história razoavelmente bem conduzida para um filme de introdução de personagem, com efeitos visuais espetaculares e cenas de aventuras de tirar o fôlego!

Mogli (Mogli)

Eu assisti o filme clássico da Disney de 1967 numa reprise que passou no cinema na década de 80 e naquela época eu achei o filme bem chato, e foi com esse sentimento que comecei a assistir o ‘live action’ com os meus filhos.

O filme é incrível e os personagens são absolutamente marcantes, principalmente para o Baloo (Bill Murray) e o assustador tigre Shere Khan (Idris Elba). Mas o grande destaque é o CGI. São raros os filmes que conseguem transpor o público tão imersivamente quanto esse.

Sully (Sully: O Herói do Rio Hudson)

Clint Eastwood nós trás mais um filme com uma história profunda sobre o piloto Chesley ‘Sully’ Sullenberger, interpretado pelo ótimo Tom Hanks.

O filme mostra a pressão e todo drama vivido por seu herói, que mesmo diante de uma tragédia iminente, não fugiu à sua responsabilidade, mas ainda sim, teve o seu heroísmo julgado. Emocionante.

Jackie (Jackie)

O filme é um soco no estômago, repleto de pesar e com um drama visto sobre a ótica da Jackie Kennedy, diferente do que estamos acostumados.

Com uma montagem inquietante, o roteiro nos entregam uma interpretação incrível e incômoda da Natalie Portman.

Florence Foster Jenkins (Florence — Quem é Essa Mulher?)

Um dos filmes que eu fui mais pego de surpresa desse ano e comecei os primeiros minutos me perguntando: “que diabo de nome de filme é esse?” “Que maluquice é essa dessa mulher contando horrivelmente desse jeito?”

A história baseada em fatos da Florence Foster Jenkins é tão bizarra quanto intrigante. Como essa mulher conseguiu cantar no Carnegie Hall? COMO!?

Destaque para as EXCELENTES interpretações da recordista de sempre Meryl Streep, do injustiçado Hugh Grant e do Simon Helberg, nosso querido Howard Wolowitz da série The Big Bang Theory! Ambos, excepcionais!

Silence (Silêncio)

Martin Scorsese, um dos meus diretores favoritos, trás um filme dificílimo de assistir, e ao mesmo tempo intrigante em seu argumento e que nos prende do começo ao fim.

O filme é incrivelmente violento, e as cenas de torturas vão quebrar a sua fé na humanidade. As interpretações são ótimas apesar da miscelânea de idiomas que hora fala em português com sotaque, hora em inglês, mas que não tiram o brilho filme.

Loving (Loving)

Uma linda história de amor que supera o racismo. É assim que eu posso descrever esse filme. Mais um filme baseado em fatos que nos comovem pela força do amor.

Com uma fotografia pálida que nos remetem calmaria e melancolia ao mesmo tempo. As interpretações são excelentes e transmitem o sentimento contido dos personagens por causa do ódio e racismo de uma época.

O roteiro é minimalista, e não há diálogos desnecessários. Todo drama é passado através de olhares carregados de sentimento.

Hidden figures (Estrelas Além do Tempo)

A sensação que representa esse filme é orgulho-alheio. Mais um filme baseado em fatos muito bem representados pelas personagens Mary Jackson (Janelle Monáe), Dorothy Vaughan (a ótima Octavia Spencer) e Katherine G. Johnson (a cativante ao mesmo tempo engraçada Taraji P. Henson).

O filme aborda com sensibilidade os problemas de misoginia e racismo da época, e que nos dão uma repulsa imensa das atitudes dos homens brancos (e alguma mulheres também!) e saber que elas chegaram lá nos enchem de esperança e orgulho.

La La Land (La La Land: Cantando Estações)

Muito bom, mas não espetacular!

Não é musical — O filme começa com uma cena típica de musical, só que feita em cima de um viaduto arrancado vários “uauuu”, e logo depois quando a Mia (Emma Stone) vai participar do primeiro teste de audição do filme e… e… só!

Não tem romance — Sério, a química entre os dois é rasa, e em momento algum eu torço pelo casal e quando eles se separam, eu não me importo. Fora o fato que o Ryan Gosling (Sebastian) canta muito mal, e ele não conquistaria ninguém com os seus números de dança e música. Aliás, as dancinhas são bem fraquinhas!

Mas o final é bom! — Pelo menos tiveram a coragem de fazer um final Casablanca e não de novela. Num todo, o filme é o que eu classifico com “Filme Imperatriz Leopondinense”. Para quem não sabe, no Rio de Janeiro, houve uma época que a escola de samba Imperatriz Leopondinense foi tri-campeã com desfiles tecnicamente perfeitos, mas sem levantar o público. O mesmo acontece com La La Land.

Gostei muito

Nocturnal Animals (Animais Noturnos)

Surpreendente. É assim que eu defino Animais Noturnos. Um dos filmes mais corajosos desse ano e com um ‘plot twist’ sensacional.

Outra qualidade é que pela primeira vez eu curti um trabalho da Amy Adams. Eu sei que ela é uma ótima atriz, mas ela tem um enorme talento para escolher filmes ruins para trabalhar. Já Jake Gyllenhaal vai te surpreender do começo ao fim.

Fences (Cercas)

O melhor roteiro disparado dessa edição do Oscar. Fences é baseado numa peça de teatro com os mesmos atores e que interpretam magistralmente. Mas o destaque está nos protagonistas Denzel Washington (Troy Maxson) que parece uma metralhadora de tanto que cospe falas, hora sinceras, hora amargas; e claro, a ótima Viola Davis (Rose Maxson), que sofre calada 99% do tempo e tem a melhor cena do Oscar desse ano.

O filme é sensível e amargo ao mesmo tempo, e vai fazer você refletir sobre as suas escolhas e como isso impacta na vida de seus filhos.

Captain Fantastic (Capitão Fantástico)

Com um argumento surpreendente, Capitão Fantástico me pegou por conta da relação do pai com os seus 6 filhos, é claro. É puro, inteligente e muito verdadeiro.

Com uma fotografia linda e um roteiro afiado, Capitão Fantástico é daqueles filmes que ficam com a gente depois de assistir, nos fazendo refletir sobre os diversos pontos de vista sob uma situação conflitante.

O ator Viggo Mortensen é excelente como Ben, mas eu não acho que ele deva levar a estatueta.

Hacksaw Ridge (Até o Último Homem)

Mel Gibson está de volta na direção e com ele vemos um filme muito violento e que faz uma enorme dicotomia com pacifismo! Os horrores da guerra desse filme superam, e muito, o Resgate do Soldado Ryan, acreditem. E todo o drama sobre a condição de opositor consciente do personagem do Andrew Garfield (Desmond Doss) ajuda a dimensionar a grandeza do seu heroísmo na metade final.

Por ser baseado em fatos, eu fiquei esperando o tal momento heroico e confesso que estava não apostava muito no Desmond. Porém, ver o que ele fez, ainda que romanceado é inacreditável e é impossível não se emocionar.

Rogue One (Rogue One: Uma História Star Wars)

Se eu fosse explicar o que é Rogue One para alguém, eu diria que é o filme menos e mais Star Wars já feito. Menos porque não se trata da saga da família Skywalker, mesmo se passando no universo Star Wars.

Mais porque é o filme mais ‘fan service’ de Star Wars possível! Tudo, absolutamente TUDO é uma enorme homenagem ao episódio IV. O clima e a conexão de Rogue One com o primeiro filme da saga é inacreditavelmente bem-feito. Tudo se encaixa e quando os fãs dizem para você o Episódio IV logo depois, não é exagero. Os 30 minutos finais são de tirar o fôlego.

Hell or High Water (A qualquer custo)

Um drama moral cheio de dualidades em que de um lado está o sentimento de desesperança, desespero, melancolia e do outro a violência e a criminalidade.

Com a fotografia esplêndida, o filme cria um ritmo sem pressa que prolonga a dificuldade dos dois irmãos Toby Howard (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster) em finalizar a série de assaltos que se proporam a fazer para se livrarem das dívidas da família, ao mesmo tempo que os policiais Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto Parker (Gil Birmingham) tentam capturá-los.

Lion (Lion: Uma Jornada Para Casa)

Baseado em fatos, a história por si só já é emocionante. Eu mesmo já a conhecia através de um vídeo do Google Maps no Youtube. Foi à partir dele é que descobri a história do filme, e mesmo levando 100% de ‘spoiler’, Lion é um soco no estômago.

As condições de vida de Saroo e sua família já nos comovem nos primeiros minutos de cena, e o drama nos acompanhará o tempo todo até o arco final, que mesmo já sabendo como termina, vira um manancial de lágrimas. Eu mesmo fiquei dias sem tirá-lo da cabeça.

Nota: Sinceramente, a indicação de Dev Patel como ator COADJUVANTE é ridícula! Ele é o principal. O ator Sunny Pawar que faz o Saroo criança que é o coadjuvante.

Filmaço

Manchester by the sea (Manchester a beira-mar)

Tragédia, luto e perdão, é disso que se trata Manchester a beira-mar. O filme é uma mistura bem equilibrada de sentimentos do passado e presente sob a óptica de quem está no centro dela. Lee Chandler, magistralmente interpretado pelo Casey Affleck, é devastado emocionalmente por uma tragédia do passado e agora precisa lidar com a criação do seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges) após a morte do seu irmão Joe. Destaque para cena da Randi Chandler (Michelle Williams) com o Lee, que certamente garantiu a sua indicação (merecidíssma) de melhor atriz.

O filme retrata a crueldade que é ter que viver depois de uma tragédia, e faz isso de forma seca. Mesmo as transições de ‘flashbacks’ de momentos felizes é feita de forma quase cruel que intensificam ainda mais a dor e o sofrimento do Lee. Eu lembrei muito do filme Reign over me (Reine sobre mim), só que com muito mais pesar agora.

A fotografia do filme é tão melancólica quanto a sua narrativa e aumenta ainda mais o sentimento de cada cena. O roteiro é verdadeiro, sincero e muito palpável. Você percebe a complexidade das motivações de cada personagem, tornando o drama ainda mais real.

Moonlight (Moonlight: Sob a Luz do Luar)

“Em algum momento, você tem que decidir por si mesmo quem você vai ser. Não deixe que ninguém tome essa decisão por você.”

Essa frase foi dita pelo personagem Juan vivido pelo ótimo Mahershala Ali (aquele mesmo de ‘House of Cards’) e sintetiza bem o drama central do filme. Moonlight é uma história de um menino chamado Chiron que vive dilemas profundos sobre masculinidade, drogas e pobreza e como cada situação impactará em quem ele será no futuro.

Chiron é interpretado sublimemente por 3 atores (Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes), que dividem a história em 3 atos separados e nos entregam um filme complexo e cheio de dualidades. Nós refletimos sobre o quão complexo é decidir como lidar para as situações em que a vida nos coloca e acima de tudo, como o meio nos molda.

O filme mostra claramente com somos influenciados por quem convivemos e como é difícil fazermos as nossas próprias escolhas, independente se elas causarão sofrimento à outros ou à nós mesmos.

Uma joia rara!

Minhas apostas para os vencedores do Oscar 2017

(Os filmes sinalizados na cor vermelha são os meus favoritos)

  • Melhor filme: La La Land (La La Land: Cantando Estações) — Moonlight (Moonlight: Sob a Luz do Luar)
  • Melhor diretor: Damien Chazelle — La La Land (La La Land: Cantando Estações) — Barry Jenkins — Moonlight (Moonlight: sob a luz do luar)
  • Melhor ator: Casey Affleck — Manchester by the sea (Manchester a beira-mar) — Casey Affleck — Manchester by the sea (Manchester a beira-mar)
  • Melhor ator coadjuvante: Lucas Hedges — Manchester by the sea (Manchester a beira-mar) — Mahershala Ali — Moonlight (Moonlight: sob a luz do luar)
  • Melhor Atriz: Emma Stone — La La Land (La La Land: Cantando Estações) — Ruth Negga — Loving (Loving) * [Como não assisti o filme ‘Elle’, eu não vi a interpretação da Isabelle Huppert. Uma pena!]
  • Melhor atriz coadjuvante: Viola Davis — Fences (Um limite entre nós) — Viola Davis — Fences (Um limite entre nós)


OSCAR 2017 — Enfim, uma edição plural was originally published in Eu, @cristianoweb on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.